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10 de setembro: Dia Mundial de prevenção do suicídio

A frase da imagem é o lema da Campanha Mundial de Prevenção ao Suicídio 2023, que neste mês, o Setembro Amarelo, e especialmente em 10/09, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, ganha maior destaque, mas acontece durante todo ano.

A ocorrência de suicídios é uma trágica realidade que assume caráter de epidemia global, fato confirmado pela última pesquisa sobre mortalidade realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano de 2019, na qual se constatou 700 mil casos em todo o mundo, representando 1,2% das mortes por todas as causas.

Existe variação entre países e por gênero, sendo que nos mais ricos os índices são maiores entre homens, com 16,6 por 100 mil, enquanto entre as mulheres as taxas são maiores nos países de renda mais baixa, atingindo 7,1 por 100 mil.

No Brasil, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, entre 2016 e 2021, houve acréscimo de 49,3% na taxa de mortalidade de jovens entre 15 e 19 anos, atingindo a marca de 6,6 casos por 100 mil e de adolescentes entre 10 e 14 anos, de 45%, chegando a 1,33 por 100 mil. Já na comparação entre gêneros o mesmo levantamento indica 12,6 para cada 100 mil homens e 5,4 por 100 mil mulheres. Estima-se que anualmente, no nosso país, ocorram por volta de 14 mil suicídios.

Outro estudo importante sobre o tema foi o realizado pelo epidemiologista Jesem Orellana, do Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia), e o médico psiquiatra Maximiliano Ponte, da Fiocruz Ceará, buscando entender a influência da pandemia de covid 19 na incidência de suicídios no Brasil, cuja conclusão foi de que nas regiões Norte e Nordeste, socioeconomicamente mais vulneráveis, houve registro de aumento significativo durante o período, na região Norte de 26% entre homens com idade a partir dos 60 anos e na região Nordeste o maior crescimento foi observado na população feminina, na mesma faixa etária, da ordem de 40%.

De todo modo, especialistas consideram que grande parte dos casos poderia ser evitada, se as pessoas tivessem oportunidade de tratamento psiquiátrico adequado e se houvesse informação de qualidade, orientando parentes e pessoas próximas no sentido de identificar quando alguém dá sinais de que está necessitando de ajuda. E a criação dessas datas, bem como das campanhas anuais, têm como finalidade chamar a atenção de governos, órgãos de imprensa e a população em geral para a importância da prevenção.

Em que pese o esforço da OMS e de instituições de saúde mental na maioria dos países, há ainda um longo caminho a ser percorrido para se chegar a uma situação próxima à ideal. Para se ter ideia de quão incipiente é o estágio em que o enfrentamento a esse terrível problema se encontra, apenas 38 países, em todo o mundo, são reconhecidos por adotarem uma política de prevenção eficaz.

 

Suicídio e trabalho

A partir dos anos 1990, com o aprofundamento da ideologia neoliberal, e a introdução, em todo o mundo, de mecanismos de aumento da produtividade nas empresas e o estímulo à competição entre colegas de trabalho e ao individualismo, passou-se a observar, de forma crescente, trabalhadores atentando contra a própria vida nos locais de trabalho, porém quando surgem tais ocorrências, as empresas se apressam em tentar descaracterizar a relação entre elas e a organização do trabalho, buscando relacioná-las a características individuais das pessoas e a problemas externos ao ambiente laboral.

Christophe Dejours, psiquiatra francês dedicado ao estudo da relação entre adoecimento mental e trabalho, observando o fenômeno em grandes empresas de seu país tais como Peugeot, Renault, Électricité de France (EDF) e France Télécom em que a partir de determinado momento começam a registrar altos índices de suicídios nos próprios locais de trabalho, assevera: “O fato de as pessoas irem suicidar-se no local de trabalho tem obviamente um significado. É uma mensagem extremamente brutal, a pior do que se possa imaginar – mas não é uma chantagem, porque essas pessoas não ganham nada com o seu suicídio. É dirigida à comunidade de trabalho, aos colegas, ao chefe, aos subalternos, à empresa. Toda a questão reside em decodificar essa mensagem.”, em entrevista ao jornal “Público” de Portugal, em 2010.

Marcelo Finazzi, administrador de empresas e funcionário do Banco do Brasil, teve seu interesse despertado ao tema a partir do crescimento de casos na instituição na qual trabalha, na segunda metade da década de 1990. Do aprofundamento de sua observação, desenvolveu sua dissertação de mestrado “Patologia da Solidão: o suicídio de bancários no contexto da nova organização do trabalho”, apresentada em 2010, na qual relata que entre 1996 e 2005, ocorreram 181 casos de suicídio no banco.

A situação apontada no trabalho acadêmico de Finazzi, se repete praticamente em todos os outros grandes bancos e as causas identificadas são as mesmas, inclusive, coincidindo com as conclusões de Dejours, quais sejam: a pressão por produtividade, as jornadas estafantes e assédio moral, entre outras.

Na Caixa, tem-se a informação de forma esparsa, a partir da repercussão dada pelos próprios colegas que presenciaram ou trabalhavam nas mesmas unidades, de diversos casos, porém não se consegue precisar a quantidade, uma vez que tem sido política das sucessivas direções ocultar os casos e sonegar dados estatísticos com o claro objetivo de se isentar da responsabilidade, como na grande maioria das empresas.

É preciso falar sobre o assunto

O Setembro Amarelo e o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, têm como finalidade primeira combater o tabu que envolve o assunto em diversos países, nomeadamente no Brasil, pois não é possível o desenvolvimento de políticas sobre problemas invisibilizados. Ao contrário, quanto mais se falar sobre o tema com a divulgação de orientações, seja por meio de órgão governamentais, instituições não governamentais e a própria mídia, maior será a conscientização da sociedade em geral, pois o olhar atento para as pessoas próximas que passam pelo sofrimento mental é elemento central no processo de prevenção. É fundamental também que as empresas façam seu papel coibindo as práticas com potencial de gerar o sofrimento mental em seus empregados, como forma de prevenção, mas assumam sua responsabilidade, quando, lamentavelmente, as ocorrências não forem evitadas.

No Brasil, para além da estrutura fornecida pelo SUS por meio da Rede de Atenção Psicossocial Instituída pela Portaria 3.088/2011, que regulamenta a Lei 10.216/2001 (Lei da Reforma Psiquiatrica), composta pelos  Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência e Cultura e as Unidade de Acolhimento (UAs), a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), se encarrega, todos os anos, de difundir a campanha de prevenção ao suicídio (https://www.setembroamarelo.com/).

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