A estimativa é do Dieese: o pagamento a trabalhadores e aposentados pode acrescentar à economia R$ 232,6 bilhões neste final de ano, valor equivalente a 2,7% do Produto Interno Bruto brasileiro. São 51,1 milhões de trabalhadores no mercado formal, aí incluídos aqueles vinculados ao setor público, privado e empregos domésticos com carteira assinada, além de 32,3 milhões de aposentados e pensionistas do INSS e do regime próprio da União.
O valor médio é de R$ 2.538,79. Ganho adicional sinaliza a alguns a chance de amortizar dívidas e a outros a de consumir alguma coisa. O consumo movimenta o comércio, reduz estoques ou eleva encomendas à indústria. Movimenta, também, os serviços.
O alívio, obviamente, é temporário, da mesma forma os postos de trabalho gerados em novembro e dezembro, fechados em janeiro. De 2022, sob a política econômica de Paulo Guedes, espera-se nada. A taxa básica de juros (Selic), hoje em 7,75% ao ano, seguirá subindo, registra a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de 27 de outubro. A medida, dizem os neoliberais, serve ao combate à inflação: taxa mais alta, financiamentos proibitivos, investimentos descartados, rentismo como preferência daqueles que dispõem de dinheiro, sumiço de consumidores.
Cresce a reserva de mão de obra com trabalhadores demitidos. Uma espécie de paz dos cemitérios. A disparada de preços neste ano, na casa dos dois dígitos, relaciona-se à moeda brasileira em baixa, combustíveis e energia em alta e, com essas variáveis, produtos na ponta bem mais caros. Claro que a elevação da Selic não interferirá nesses preços: a preferência pela venda de commodities ao mercado externo com ganho cambial reduz a oferta interna já minguada pela ausência de estoques reguladores, os combustíveis são regidos pelos preços internacionais em nome dos dividendos a acionistas, boa parte residente no exterior, e a bandeira roxa na energia é garantia a fornecedores privados.
Segundo o IBGE, base 2º trimestre de 2021, são 14 milhões de desempregados, 5,7 milhões de desalentados (desistiram da procura por emprego) e 32,9 milhões de subutilizados(horas insuficientes de trabalho: fazem bico). E, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, base 2020, 116,9 milhões de cidadãos conviviam com algum grau de insegurança alimentar no Brasil, dos quais 43,4 milhões sem alimentos suficientes e 19,1 milhões enfrentando a insuficiência alimentar grave.
Insuficiência grave é eufemismo para não ter o que comer. A teoria de mercado de Guedes promete seguir em 2022. E a realidade promete se seguir como ela é: realidade.