Com a elevação em um ponto percentual decidida em reunião de ontem (29) do Comitê de Política Monetária (COPOM), que é integrado pela diretoria do Banco Central do Brasil, a taxa básica de juros (Selic) chega a 13,25% ao ano.
Segundo o portal Infomoney, a taxa real, calculada descontando-se da taxa nominal a variação inflacionária, é de 9,18% no Brasil, a segunda maior do mundo, atrás apenas da taxa da Argentina, de 9,36%.
Nota do Copom
Taxa elevada encarece financiamentos e atrai poupadores, evidentemente entre aqueles que têm para poupar. O objetivo do Banco Central é encolher a disponibilidade de moeda e inibir a demanda. Demanda menor, pressão menor sobre preços, diz a teoria.
Teoria à parte, entre os preços com maiores altas em 2024 apareceram alimentos e combustíveis. No Brasil rodoviário continental sem ferrovias combustíveis elevam o custo de distribuição de alimentos. Diesel e gasolina terão reajustes no início de fevereiro, independentemente da variação da Selic.
A nota do Banco Central, publicada ao término da reunião do Copom, registra que há “resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista”. Em outras palavras, há que se pôr freio à economia. Crescimento contido, vendas contidas, produção contida acarretam falências, dívidas protestadas, desemprego elevado. Mais desempregados, menos consumidores e, como vantagem para quem ainda contrata, oferta mais barata de mão de obra.
Desemprego e desocupação
Há quem argumente estar o país em pleno emprego. O IBGE registra no trimestre setembro/outubro/novembro de 2024 taxa de desocupação de 6,1%. Ressalte-se: desocupação. Entre os ocupados, incluem-se vendedores de quaisquer coisas em semáforos ou trens, por exemplo. Não são empregados, mas para o bem da estatística ajudam a reduzir a taxa de desocupação.
Um ponto percentual na taxa básica significa mais R$ 55 bilhões na dívida pública. Sem contrapartida em financiamentos e em grande parte alimentada pelas operações compromissadas, a dívida, diferentemente dos benefícios de prestação continuada da previdência social, nunca foi objeto de pente-fino. Seus juros consomem mais de 40% do orçamento público. E a propósito: operações compromissadas se caracterizam pela oferta de títulos do Tesouro pelo Banco Central em troca de saldos de caixa de grandes bancos, para que tais saldos não se transformem em empréstimos. Remuneração em curtíssimo prazo, risco zero de inadimplência.
A política do Bacen tem o aval da política econômica adotada no Brasil, a do crescimento travado. Críticos contumazes da gestão de Roberto Campos Neto no Bacen, encerrada no último dezembro, repudiaram veementemente a elevação de agora. Promovida sob a nova gestão do Bacen, integrada por sete, entre nove diretores, indicados pelo Governo Lula, dizem esses críticos que esse ponto percentual a mais foi “contratado anteriormente”. Anteriormente?! Na expressão do jornalista Leandro Fortes, é tipicamente um “argumento de militância”, isto é, “um argumento absurdo para a militância seguir em frente”.
Está correto o jornalista. Não é necessário argumento aos militantes. Melhor, mesmo, é mudar de caminho, especialmente quando seguir em frente significa um passo a mais em direção ao precipício.