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Água, Elemento Essencial da Vida

Célia Zingler*

Dia 22 de março, começa o Fórum Alternativo Mundial da Água – FAMA 2022, em Dakar, no Senegal. A última edição foi em Brasília, em 2018. O movimento mundial é organizado por diversos organismos que defendem a água como um bem comum e, na África, assim como no resto do mundo, as grandes corporações estão visando somente ao lucro. O homem mais rico da China é um vendedor de água envazada.

Diferente do Fórum Mundial da Água, o fórum das corporações, que também acontece de 22 a 25 de março, em Dakar, o FAMA, defende a água para todos os seres vivos, pois ela é um bem comum que não pode ser tratado como mercadoria por ser essencial à vida.

Junto com a mercantilização, vem, também, a escassez, porque o sistema capitalista explora tudo sem limite. A falta de água, a destruição do meio ambiente natural e a emergência climática caminham juntas e colocam em risco a vida no Planeta Terra.  Ao desmatar a Amazônia, além da destruição de todas as formas de vida locais, o risco de estiagem desce para o sul da América, porque a formação dos rios voadores, aquelas nuvens carregadas de água, já está afetada e a falta de chuvas já é sentida no Brasil, no Paraguai, na Bolívia e na Argentina.

As formas de apropriação para mercantilizar a água são diversas. Nestlé e Coca-Cola são as mais conhecidas. Estão nesse comércio, exploram o subsolo com extração de água mineral e vendem a preços exorbitantes, além de gerar poluição. Secar as águas subterrâneas afeta córregos, rios, lagoas. As pessoas mais velhas lembram do riacho que passava perto da sua casa, mesmo nos centros urbanos. Lembram da água em abundância e dos rios límpidos. Lembram das fontes de água onde podiam beber com as mãos em concha porque fluía em abundância e não estava envenenada por agrotóxicos e nem metais pesados e outros poluentes das diversas minerações criminosas e da indústria.

Assassinar lideranças dos povos indígenas é comum, bem como agricultores que produzem alimentos nas pequenas propriedades familiares. Justamente esses cuidam das matas, dos rios, da natureza exuberante que o Brasil, em pouco tempo, só vai ter em registros fotográficos. Tudo em nome do lucro, da apropriação, da mercantilização da vida. E junto vai a água, com as grandes barragens. A privatização da Eletrobras passa, também, pela entrega das águas das barragens, que tanto sofrimento causaram e causam às pessoas desalojadas do seu território e um prejuízo imensurável ao meio ambiente, incluindo os seres que vivem nas águas.

A mineração e, especialmente, a megamineração são destruidores de águas o tempo todo e não somente nos momentos de rompimento de barragens, como foi em Brumadinho e Mariana, da empresa Vale, que um dia foi uma estatal chamada Vale do Rio Doce. Hoje o Rio Doce é um rio morto.

O capital apresenta-se falsamente como salvador da água. Isso é denunciado no FAMA e nos movimentos sociais do mundo inteiro, a falsidade das grandes corporações que, neste ano, reúnem-se na África para mostrar que ali também exploram e querem mais. O povo do continente africano denuncia fortemente o modelo da devastação com desmatamentos, venenos nas grandes plantações de monoculturas, privatização da água. Igual ao Brasil.

Deixar as corporações negociantes da água agirem livremente é decisão política de governantes. Talvez o Chile mostre-nos o caminho de retomada de garantia do acesso à água, porque o povo chileno já denuncia há tempos o seu sumiço; lá, o processo está mais avançado, toda água que passa pelas propriedades, as grandes, é óbvio, pertence aos proprietários, que são empresas estrangeiras. Esgotam o subsolo, esgotam os rios, secam tudo.

No Brasil, caminhando a favor das grandes corporações, que estão perdendo espaço no mundo pelo movimento de reestatizações, nosso desafio é barrar as privatizações que, neste momento, estão acontecendo com as empresas de saneamento dos estados ou as parcerias público-privadas que são negócios de grandes investidores.

Já foram entregues diversas empresas estaduais de saneamento, não sem luta, e o governo do Rio Grande do Sul está empenhado em convencer os prefeitos dos mais de 300 municípios a concordarem com a privatização para vender, na bolsa de valores, 70% das ações da CORSAN. Tira dos municípios o direito e o dever de decidir, junto com a sua comunidade, como deve ser uma boa gestão da água para que tenha para todas as pessoas, propondo contratos de 40 anos, renováveis por mais 40 anos, para empresas que ninguém sabe quem são: dos EUA, do Canadá, da Europa, dos países do petróleo do Oriente Médio, da China, de Cingapura?

Acompanhe as atividades do FAMA 2022 – Brasil/Dakar on-line, um rico espaço para saber porque devemos nos preocupar, e muito, com a preservação da água como um bem comum e isso somente pode ser com empresas públicas de saneamento e controle social realizado pelo povo que ali vive, nas cidades, no meio rural, nas florestas.

Matar e criminalizar as lideranças que defendem a água e o meio ambiente é uma prática recorrente. Pelo direito à vida em abundância, com água boa para beber, cozinhar, tomar banho.

Água não é mercadoria, água é vida!

*Escritora, Diretora de Aposentadas, Aposentados e Previdência da APCEF/RS e do Jurídico do Sindibancários de Santa Cruz do Sul e Região. Coordenadora do Fórum em Defesa da Água Pública de Santa Cruz do Sul, RS. Associada ao ONDAS – Observatório dos Direitos à Água e ao Saneamento – https://ondasbrasil.org/

 

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