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Consciência de classe não se constrói com manobras, enganações e mentiras

Desde o advento do Socialismo Científico, em Marx e Engels, a teoria política ganhou um patamar mais elevado para a compreensão da sociedade capitalista e a conscientização das mudanças que precisam ser realizadas. A consciência das massas era um dos temas fundamentais.

Essa vertente se desenvolveu depois com Rosa Luxemburgo, Lenin e Trotsky, como expoentes, e outros atores revolucionários em todo o mundo. A Revolução Russa de Outubro de 1917 foi o ponto alto desse processo de elaboração da teoria marxista.

Mas, mesmo antes de Marx e Engels, no movimento já se discutia a questão da consciência. Desde as primeiras lutas sindicais se colocavam a necessidade de uma conscientização de classe para a organização de lutas contra os patrões.

As primeiras lutas operárias eram uma balburdia, sem uma pauta de reivindicações, sem uma liderança eleita para negociar, com objetivos difusos. Os trabalhadores manifestavam ódio quebrando as máquinas.

Lenin, em seu texto “Que Fazer”, assinalou que as greves organizadas por sindicatos, no final do século 19, comparadas às lutas do início daquele século, eram a expressão evidente de um avanço na conscientização da classe.

Os autores acima passaram grande parte de sua vida militante fazendo debates em torno da questão da consciência da classe. Para eles, era vital a questão de se fazer avançar a consciência das massas para haver mudanças na sociedade.

Encontramos debates intensos, acalorados, profundos sobre a política e outros temas afins. Porém, eram debates feitos com o critério da verdade, debates honestos.

Antes da Revolução Russa de Outubro de 1917 todo o debate era no terreno da hipótese teórica, mas depois da Revolução Russa, como em qualquer outra ciência, a teoria do Socialismo passou a ser um fato!

Daí a importância de estudar e entender o que é uma Revolução, como ela se dá, o que fazer nesse processo. E um dos elementos mais importantes desse debate é justamente a questão da consciência das massas.

Fazer avançar a consciência da classe trabalhadora é vital para produzir mudanças cada vez mais profundas na sociedade. Mas, para isso são necessários dois critérios importantes: a democracia e a honestidade.

Sem um debate profundo, democrático, não há como fazer a consciência avançar. A unanimidade não traz a riqueza que um debate de divergências de opinião da realidade pode produzir.

Mas, não adianta haver espaço para debates e se falar mentiras, falsear discussões, fazer calunias. Essas práticas não podem elevar a consciência da classe trabalhadora, justamente porque não versa sobre a realidade, tal qual ela é, ao contrário, turva a realidade e dificulta a conscientização.

A consciência é erigida a partir da compreensão da realidade, isto é, do que está certo fazer e do que está errado. As mentiras não apresentam o que é a realidade de fato, portanto não elevam a consciência, muito ao contrário, produzem a alienação.

A recente história do movimento operário brasileiro

No final dos anos 70, ainda sob uma Ditadura Militar ferrenha, os movimentos operários começam a despertar realizando grandes mobilizações. O epicentro era o movimento metalúrgico de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

Os trabalhadores sentiam a necessidade de expandir essas lutas para outras categorias e para todo o país. Mas, para isso tinham a necessidade de suplantar as direções sindicais pelegas, colocadas nos sindicatos pelos militares para impedir as lutas e manter a própria Ditadura.

E para essas lutas avançarem era necessária uma organização maior da classe trabalhadora. Isso seria impossível sem avançar a consciência de classe.

Por isso, em todo o movimento sindical o centro dos debates era “como” fazer avançar a consciência da categoria. Era preciso desmascarar o pelego e suas mentiras, explicar a diferença de interesses entre os patrões e os trabalhadores, explicar a importância da solidariedade de classe, explicar o papel do governo militar, que a luta era a maneira de garantir e defender os direitos, que os sindicatos eram instrumentos dos trabalhadores.

Sempre houve muitas diferenças no movimento, mas essas só faziam o movimento se enriquecer. Ninguém era “dono da verdade” e todos discutiam e defendiam, de maneira apaixonada, suas análises da realidade e a política necessária para mudar as coisas.

Depois se fazia balanço para saber o que estava certo e, principalmente, o que estava errado, para corrigir os erros.

Com o tempo essa prática foi sendo abandonada, foi-se reproduzindo o método que tinham os pelegos, de fazer manobras, mentiras, calunias para desqualificar o oponente e depreciar o debate político, chegando inclusive à agressão e intimidação física. Tudo para se manter a autoridade e o controle do movimento, pela direção.

Essa prática foi se dando em uma realidade na qual os patrões avançaram em seus planos neoliberais, acirrando a exploração capitalista. Esses ataques geraram uma certa intimidação do movimento, diminuindo bastante os números de greves, ou fragmentando em várias lutas isoladas, ao invés de unificar todo o movimento.

Com isso, a consciência de classe, que nos anos 80 e início dos 90 foram avançando muito, passou a retroceder. Hoje, até tem lutas, mas são mais o fruto da situação de exploração, que produz uma forte reação da classe, do que da conscientização e organização da base.

Críticas ao movimento nacional bancário

O movimento sindical precisa retomar o debate histórico da importância da conscientização da classe trabalhadora, para fazer avançar a organização e a luta da categoria, e fortalecer o avanço da classe trabalhadora.

A segunda onda de automação bancária, produzida pela Inteligência Artificial e a tecnologia 5G irá reduzir numericamente a categoria bancária e dispersar ainda mais os trabalhadores, com trabalhos em meios virtuais. A terceirização ganhará um peso ainda maior e a divisão da categoria aumentará.

A necessidade colocada para a categoria é de uma organização ainda maior, que só pode acontecer com uma conscientização maior.

O papel da direção do movimento é decisivo nesse processo. É preciso haver mais democracia para haver mais debates, porém é preciso a prática do critério da verdade, com honestidade nas polêmicas, sem manobras ou falsificações e omissões.

Uma negociação com o patrão tem que ser escancarada para a categoria, não ser um evento secreto. Quaisquer propostas de Acordo, de organização ou de luta, precisam ser amplamente expostas e debatidas pelos trabalhadores.

Se tomarmos o evento da última Campanha Salarial dos bancários, em 2020, vamos observar o inverso disso!

Muitos sindicatos não fizeram assembleia para discutir e votar a pauta de reivindicações que fora entregue aos banqueiros. Nas poucas assembleias que houve, na maioria foi cerceada do debate, apenas com a direção do sindicato apresentando suas opiniões e com uma votação plebiscitária de Sim ou Não, para as propostas da direção.

Os Acordos não tiveram a redação apresentada na integra e com antecedência para a apreciação da categoria nas assembleias. Mudanças de redação do Acordo não foram pontuadas e explicadas pela direção do porquê.

Congressos e Encontro da categoria foram realizados a toque de caixa, quase sem polêmica nenhuma. O trabalho de base reduzido a zero, já que não era preciso mais a participação da categoria, pois assim se garantia aprovar a proposta de direção sem maiores “problemas”.

Tudo isso vai no sentido oposto da conscientização. A organização da categoria vai se dissipando e a mobilização fica cada vez mais fraca.

Está difícil convencer uma pessoa de que é melhor fazer a luta do que pegar ou manter uma função. A grande maioria se agarra à sua função e não quer se arriscar a perdê-la.

A ideologia da meritocracia ganha as mentes e interfere negativamente na consciência da classe. Avança a ideia de que “sou capaz” e “não preciso de ninguém, pois depende só de mim”.

Com isso, os banqueiros estão ganhando de goleada dos sindicatos, na disputa da consciência dos trabalhadores.

Daí a importância da categoria se organizar mais e melhor fazendo reuniões, plenárias, encontros, desde a base até eventos nacionais. E os sindicatos têm um papel fundamental nisso.

É preciso discutir muito e de forma honesta. Defender Acordos ruins não é um problema de princípio, é uma questão tática baseada na análise da conjuntura. Mas, tentar esconder que o Acordo é ruim, tentar convencer a categoria que tem que aceitar o Acordo ao invés de fazer a luta, fazer manobras e usar de mentiras para isso, trata-se de uma questão de princípio.

Nós temos a teoria como ferramenta e a história como lição, errar não é inevitável, é só uma opção.

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