Boletim do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) “Emprego em Pauta” nº 18, divulgado recentemente, traz pesquisa que revela o crescimento de rescisões de contratos de trabalho por morte de trabalhadores celetistas entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021. O que era algo esperado, já que os números de mortes no Brasil ao final do mês de março já beiravam a casa de 322 mil, chegando, hoje, a quase 450 mil. Mas o porcentual é assustador: 71,6%.
Em algumas atividades econômicas, os números são escandalosamente altos. Como os casos dos profissionais de assistência à saúde humana, 75,9%; Transporte, Armazenagem e Correio, 95,2%; Educação, 106,7%; e Atividades Financeiras, Seguros e Serviços Relacionados, 114,6%. Já o Estado com maior porcentual de mortes de trabalhadores é o Amazonas, com incremento de 437,7%.
Se considerarmos que um número expressivo dessas mortes é, inquestionavelmente, relacionado ao trabalho, se fossem todas devidamente notificadas, representaria, também, um aumento significativo nos índices de mortes por acidente de trabalho nos exercícios de 2020 e 2021. O mesmo aconteceria com os registros de auxílio-doença dos milhões de trabalhadores que se infectaram pelo coronavírus, mas felizmente conseguiram sobreviver.
Não dá para falarmos desses dados sem citar os grandes responsáveis pelo genocídio da população em geral. Juntam-se a Bolsonaro e seu séquito de auxiliares, muitos arrolados na CPI da cloroquina, milhares de empresários que, por ações ou omissões, contribuíram com os óbitos de tantos trabalhadores.
O levantamento feito pelo Dieese abrange apenas o universo dos que têm registro em carteira. Excluem-se mais de uma dezena de milhão de trabalhadores por aplicativos, entre motoristas e entregadores que, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, já chegavam a 13,7 milhões; e outros milhões de informais. No mesmo ano, o IBGE identificava 2,3 milhões, somente de venderes ambulantes.
Número de desligamentos por morte no emprego celetista
1º trimestre de 2020 a 1º trimestre de 2021 – Brasil
Atividade Econômica | 1º Tri/2020 | 1º Tri/2020 | Variação % |
Comércio, Rep. de Veículos e Motocicletas | 2.588 | 4.427 | 71,1 |
Indústrias de Transformação | 2.393 | 4.023 | 68,1 |
Ativ. Administrativas e Serv. Complementares | 1.774 | 3.170 | 78,7 |
Transporte, Armazenagem e Correio | 1.270 | 2.479 | 95,2 |
Construção | 1.026 | 1.667 | 62,5 |
Saúde Humana e Serviços Sociais | 586 | 1.006 | 71,7 |
Agricultura, Pecuária, Produção
Florestal, Pesca e Aquicultura |
677 | 976 | 44,2 |
Educação | 465 | 961 | 106,7 |
Administração Pública, Defesa e
Seguridade Social |
268 | 536 | 100 |
Atividades Financeiras, Seguros e Serviços Relacionados | 157 | 337 | 114,6 |
Fonte: DIEESE
Como se percebe na tabela acima, o levantamento considerou diversas atividades econômicas de forma agregada, como é o caso do sistema financeiro. Porém, podemos inferir que pelas características dos trabalhadores do setor, os cinco grandes bancos contribuíram, de forma importante, para crescimento tão expressivo. Entre eles, a Caixa, por ter assumido praticamente sozinha o pagamento do auxílio emergencial. Certamente é a instituição onde deve ter ocorrido o maior número de mortes, principalmente levando em conta as péssimas condições de trabalho, as aglomerações em espaços fechados e mal ventilados, EPCs e EPIs inadequados. A direção do banco, entretanto, recusa-se a divulgar esses números sob a falsa alegação de sigilo. Atitude que corresponde à confissão de culpa.