O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador da meta de inflação, bateu em 10,74% no período de doze meses encerrado em novembro de 2021. A meta para 2021 é de 3,75%, admitindo-se variação de 1,5 ponto para mais ou para menos. Portanto, teto de 5,25% e inflação atual ultrapassando o dobro.
Preços e a política de governo
Altas absurdas? Entre outras, na gasolina, 50,78%, etanol, 69,40%, óleo diesel, 49,56%, e gás de botijão, 38,88%.
Combustíveis interferem no custo de quase tudo. No entanto, política de governo adotada até 2016 de controle de preços no fornecedor, no caso a Petrobras, olhava o país, mas tornava modestos os dividendos da companhia, irritando acionistas estadunidenses e privatistas brasileiros. Ao assumir, uma das primeiras medidas do governo Temer, mantida pelo de Bolsonaro, foi indexar preços de combustíveis à cotação internacional do petróleo e à variação cambial, turbinando dividendos. E o etanol? Produzido por usineiros, é misturado à gasolina e pega carona na alta. Derivados da cana também podem ser exportados e, com a moeda brasileira desvalorizada, somem do mercado interno.
Informa a Agência Brasil que o presidente da Petrobras, o general da reserva Joaquim Silva e Luna, disse em coletiva de imprensa de 29 de outubro “que ele e sua equipe sofrem quando precisam informar alta de preços de derivados de petróleo”, mas o petróleo, acrescentou, “tem seu preço determinado pelo mercado global”. Carlos Drummond, na matéria “Bomba de sucção”, publicada por Carta Capital de 1º de dezembro, conclui que “a explosão do preço dos combustíveis e do gás de cozinha provoca enorme transferência de renda dos brasileiros para uma minoria de acionistas da Petrobras”. O sofrimento do general não altera esse fato.
Para conter a inflação, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil eleva a taxa básica de juros, a Selic. Desde 8 de dezembro, 9,25% ante 2% em janeiro. O mercado aprova: é dele o Copom. A receita neoliberal é de juros crescentes para encarecer o crédito, conter a demanda, atrair dólares para valorizar a moeda brasileira e, diz a teoria, reduzir a inflação. A inflação não é de demanda, mas ao que parece isso não importa. A ver, ainda, quantos dólares chegarão ao Brasil, país política e economicamente instável, hoje um pária no contexto internacional.
PIB
O Produto Interno Bruto Brasileiro do terceiro trimestre de 2021 variou negativamente 0,1% em relação ao segundo. O do segundo trimestre havia registrado retração de 0,4% em relação ao do primeiro. Esses resultados caracterizam recessão técnica.
Ao analisar o desempenho econômico brasileiro, o neoliberal Paulo Guedes, em entrevista de 12 de dezembro ao programa Canal Livre, da Bandeirantes, disse que “quando você fala em ‘V’, o ‘V’ é o que aconteceu. Eu nunca disse que o Brasil vai continuar em ‘V’. Nós colocamos Brasil em pé. Isso é o ‘V’. Acabou o ’V’ ”. O ministro fazia referência à previsão, que se atribuíra a ele, de recuperação acentuada da economia, economia, aliás, que já estava “bombando”. No programa, Guedes mostrou-se otimista para 2022. Carlos Drummond, na edição de Carta Capital de 15 de dezembro, trata o ‘V’ como vexame: “enquanto Paulo Guedes delira, o Brasil real mergulha na recessão e falta de perspectiva”.
Dois indicadores, entre muitos que refletem a miséria brasileira do neoliberalismo, axioma do mercado e de seus porta-vozes. Mas enquanto houver Guedes, haverá Bolsonaro. Os mais de cem pedidos de impedimento por crimes de responsabilidade a ele atribuídos destinam-se às gavetas.