No último artigo, mostramos como a criação da Viepe diluía os assuntos ligados a pessoal, com a extinção da Vipes (Vice-Presidência de Pessoas) e a sua incorporação. Neste texto, mostraremos outros aspectos da nova Viepe.
O que vem primeiro é mais importante
Primeiramente, a estratégia; depois, as pessoas. No artigo anterior, mostramos como a visão de futuro do plano estratégico da Caixa encaminhava os três norteadores para o enxugamento, preparatório para a privatização. Assim, naturalmente, o planejamento de pessoas será norteado pela estratégia de venda da empresa.
Desse modo, o novo vice-presidente terá, como missão, implantar a estratégia, submetendo as questões de pessoas a essas mudanças estratégicas.
Marketing e relacionamento institucional
Há cinco anos, assistimos ao encolhimento das carteiras mais rentáveis de crédito, propriamente o encolhimento do banco.
O relacionamento da Caixa com as empresas de construção civil ou movimentos sociais de luta por moradia bem como a oferta de crédito e serviços a governos estaduais e municipais são pontos de tensão permanentes do papel institucional do banco. Como a estratégia de desmonte de banco público fragiliza os interesses de setores como esses, a submissão desse departamento à Viepe pode, também, estar relacionada com a aplicação de planos privatistas.
Ouvidoria
A Ouvidoria passará a estar subordinada à Viepe. Anteriormente, a Ouvidoria era órgão independente de qualquer uma das vice-presidências, estando no organograma diretamente subordinada à Presidência da Caixa. Com a Veipe no comando da Ouvidoria, o reflexo imediato é que as ações executadas por essa pasta não estarão ao alcance do poder de escuta e crítica típico das ouvidorias.
Para além da subsunção da Ouvidoria a essa ou aquela vice-presidência, ao colocá-la abaixo de um dos vice-presidentes, também se diminui o alcance de seu trabalho, uma vez que estará em patamar hierárquico inferior ao dos outros vice-presidentes. A estrutura nova terá impacto na independência da Ouvidoria, tanto para os clientes externos como para a abertura de ouvidorias internas.
Toda a prática de grandes corporações recomenda a ligação direta da Ouvidoria ao Conselho de Administração das empresas, seu órgão máximo, inclusive, acima do próprio presidente da companhia, por ser colegiado. Não foi essa a opção da gestão de Pedro Guimarães.
Viepe como instrumento da privatização
Para uma empresa que visa ao seu crescimento e à disputa de mercado, estratégia, ouvidoria e relações institucionais, todas estas áreas deveriam ser tratadas como transversais e organizadoras das ações do conjunto da empresa. A submissão dessas à Viepe só faz sentido em um momento de mudança total de estratégia da empresa – seu desmonte. A privatização da Caixa é antipopular e enfrentará resistência. A Viepe parece ter sido desenhada para enfrentar essa resistência.