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Perseguição e falta de respeito aos empregados Caixa

 O que são e quem são os incorporados

Na Caixa, os empregados tiveram perdas no passado, que nunca foram repostas. Uma delas foi o hiato que se abriu entre os salários e as funções. Isso gerou uma dependência enorme da função gratificada, pois perdê-la significa reduzir muito os salários, em média pela metade, mas em grande parte dos casos em até 300%!

Até pouco tempo atrás, um empregado que tivesse uma função por dez anos ou mais fazia jus à incorporação desse valor ao salário, mesmo se viesse a perder a função. Isso não é mais assim depois da Reforma Trabalhista do governo Temer.

Por isso, o grupo das pessoas denominadas “incorporados” é um grupo minoritário, composto por pessoas de várias gerações dentro da Caixa.

São pessoas que dedicaram grande parte de sua vida a um trabalho especializado, adquirindo um know-how que faz a diferença na qualidade da produção.

Essas pessoas não abriram mão de suas funções para obter a incorporação, ao contrário, isso só seria possível se a empresa retirasse a função. Também não são pessoas que se acomodaram, a maioria voltou a buscar uma função.

 

A falta de reconhecimento

No dia 4 de dezembro de 2020, uma sexta-feira, já no final da tarde, os gerentes da áreas-meio começaram a ligar para os empregados incorporados e informar que, por determinação da matriz, a partir da segunda-feira, a pessoa não estaria mais lotada naquela unidade!

A informação era de que essa decisão já estava tomada, que não tinha nada o que fazer, que na segunda-feira a Gipes (setor de RH da Caixa) entraria em contato para informar qual a agência que as pessoas deveriam se apresentar. O gerente não sabia nem dizer para qual  unidade a pessoa iria!

A Gipes entrou em contato com alguns e com outros, não. Teve empregado que precisou contatar a área da Caixa para saber o que fazer, pois o gerente já o havia dispensado.

Em meio à pandemia, sem a condição de se fazer um trabalho presencial, os empregados teriam de ir para uma área totalmente nova, sem saber executar o trabalho e tendo de atender aos clientes imediatamente, sem treinamento.

Todos sabem que, quando você é transferido para uma área, precisa de treinamento e tempo de adaptação. Ninguém chega e já vai “pondo a mão na massa”, pois nosso trabalho sempre envolve valores e qualquer deslize pode causar um prejuízo para a empresa e um processo ao empregado. Por outro lado, esse mesmo deslize gera um prejuízo aos clientes e isso, também, afeta a imagem da empresa, ou seja, todos perdem!

Fica claro que conhecimento do serviço executado, até então, por esse empregado, foi totalmente ignorado. Sua especialização de anos foi jogada fora!

Algumas dessas pessoas tinham um acúmulo fundamental de conhecimento em sua área, o que caracteriza, claramente, um desperdício de expertise e uma administração incompetente.

 

O desrespeito só crescia

Na segunda feira, depois de um fim de semana arruinado pela notícia da transferência e pela angústia de não saber o que fariam, para onde iriam, os empregados começaram a escrever para a Gipes, com cópia para seus gerentes, exigindo esclarecimentos dessas transferências.

Em vão, pois nem a Gipes e nem o Gerente e nem ninguém da Caixa para se dignou a responder aos empregados por escrito.

Dentre os transferidos, estavam pessoas de LM, cipeiros e delegados sindicais, o que caracteriza descumprimento das leis. Mas, mesmo nesses casos, não havia retorno para o empregado.

Formou-se um grupo de zap para os empregados trocarem informações. Todos buscavam respostas do que fazer, pois nada mais passava pelos meios tradicionais da administração, nem sequer pelos Normativos da empresa.

Então, a Gipes começou a ligar para alguns empregados e informar “opções” de agências para eles irem trabalhar. Foi em vão dizer à Gipes que tinha de escrever isso, mandar por caixa mail, pois a postura foi não comunicar nada por escrito!

Mas as agências que surgiam como “opção” não eram próximas à residência dos empregados, ao contrário, eram bastantes distantes, algumas localizadas em outra cidade!

É importante ressaltar que tudo isso estava acontecendo no momento em que a Caixa abria um novo PDV. O PDV de novembro havia fracassado, já que o número de adesão foi muito aquém do que a Caixa queria, então, reabriram em dezembro e, faltando uma semana para o encerramento das adesões, começaram com essa perseguição aos incorporados, o que caracteriza, claramente, o assédio a um grupo de empregados, colocando entre sair da empresa ou ser transferido para bem longe de casa.

 

Movimento sindical: lentidão e descaso

Com a formação de um grupo de zap de base, foram passadas orientações sobre as ações necessárias para acumular provas da ação ilegal e de assédio moral da Caixa. Foram orientados a procurar os sindicatos, as Apcef e a Fenae para ajudarem a responder a esses ataques.

A maioria dos sindicatos não respondeu, mandou os empregados procurarem o jurídico da entidade. Outros disseram que iriam se reunir para discutir o que fazer, mas isso, quase um mês depois do ocorrido. Já alguns diziam que não tinha como fazer ação coletiva e que cada um tinha de fazer sua ação individual e correr o risco de a Caixa retaliar.

Havia, ainda, aqueles que diziam não poder fazer um embate direto contra a Caixa, pois nas agências, devido ao sufoco da falta de empregados, os bancários estavam felizes com essa história de trazer mais gente para trabalhar, portanto, o sindicato ficava de mãos amarradas.

Apenas um sindicato (o de Campinas) entrou com ação e ganhou uma liminar para evitar as transferências.

Por meio do grupo organizado de zap, com membros de base, foram buscadas soluções ou possíveis saídas. A resistência seguia, muitos já apresentavam sintomas de problemas com a saúde mental, fruto de toda essa pressão e do assédio moral.

 

A organização de base foi muito importante

Embora não tenham sido salvos todos os empregados envolvidos nesse episódio, pois uma parte acabou sendo transferida, foi muito importante haver se organizado o grupo e discutido entre os empregados.

A força por estarem unidos propiciou uma firmeza na postura dos empregados. Todos pediram que a Caixa se posicionasse por escrito, rejeitaram as conversas por telefone feitas pela Gipes e pelos gerentes. Exigiram respeito aos mandatos da Cipa e Delegados Sindical e, também, às licenças médicas em vigência.

A despeito das inúmeras conversas com as entidades sindicais, como nada era produzido, fizeram denuncia no MPT por meio dos Sindicatos de Bauru e do Maranhão. Procurou-se, em vão, o apoio de parlamentares – nenhum respondeu ao pedido de ajuda!

Com a resistência na base, uma grande parte se manteve em suas áreas. Hoje, quem não foi transferido não ouve mais nada a esse respeito.

 

Segue, e se amplia, a falta de respeito!

Os empregados que foram para agências, bem longe de suas casas, têm declarado a situação difícil que estão vivendo. Foram trabalhar em unidades que demoram mais de uma hora, alguns até duas horas, para chegar.

Foram jogados no atendimento, em home office, sem assistência e suporte, usando a ferramenta intranet, sem nenhum domínio das inúmeras demandas de clientes e sujeitos às cobranças gerenciais, além de não terem acessos liberados aos variados sistemas de consulta e operação mantidos pela Caixa.

Literalmente perdidos em meio a tantas informações de normativos e procedimentos, sujeitos à análise de conformidade e com alto risco de cometerem erros, prejudicando a empresa em todos os sentidos, tanto na imagem quanto no financeiro.

Contudo, vários gerentes não gostaram de receber esses colegas, pois além de ter na sua lotação um funcionário mais caro, teriam de ensinar tudo para ele. Isso, no meio de uma pandemia, com falta de funcionários e filas enormes para atender, ficou impossível.

Então, começaram a ocorrer novas transferências desses empregados – de uma agência para outra. Alguns tiveram mais de uma transferência, deixando o trabalhador com uma sensação de indesejável.

Mas, como era dito no grupo, essa falta de respeito tem a ver com a política da administração da empresa e o conjunto dos empregados. Não seriam apenas os incorporados a sofrerem as consequências dessa política.

Dito e feito! Hoje, com a privatização da Caixa, a venda da Caixa Seguros está sendo imposta, goela abaixo, aos empregados.

O segmento que mais está sofrendo com isso é o gerencial, ligado às agências. São colocadas metas absurdas de venda das ações da empresa, com ameaças de transferências e descomissionamentos dos gerentes que não atingirem as metas.

As entidades têm feito relatos das reclamações dos gerentes e do adoecimento crescente no segmento gerencial das agências.

 

A saída é se organizar mais e lutar!

Infelizmente, a administração Pedro Guimarães, dentro do escopo da política do governo Bolsonaro, seguirá atacando os empregados da Caixa, com total desprezo ao histórico de cada um.

E as entidades sindicais também seguirão agindo muito mal a esses ataques. Além do exemplo da Caixa, o que ocorreu no BB confirma isso.

No BB, houve uma reestruturação que descomissionou todos os caixas do banco e de outras funções. O banco fechou unidades e transferiu, arbitrariamente, os funcionários, inclusive, os delegados sindicais.

Os sindicatos fizeram dois dias de paralisação e entraram com ação na justiça – bem diferente da postura com a Caixa. Mas não chamaram um Encontro Nacional dos funcionários para ampliar a luta; nem chamaram um Encontro junto à Caixa para fazer uma luta conjunta contra essa política para os bancos públicos.

Resultado: mantiveram-se as reestruturações, transferências e descomissionamentos.

Os bancários, em sua maioria, já são muito desconfiados das entidades sindicais, por inúmeras traições em campanhas salariais passadas. Mas a falta de ação em momentos como esses, de ataques, acaba desacreditando, de vez, o movimento sindical nacional.

No entanto, não há outra saída para a categoria a não ser lutar. É preciso se organizar desde a base, de cada local de trabalho, indo para uma organização regional e nacional.

Toda a base está chamada a fazer isso, com ou sem os sindicatos.

Se não houver essa ação por parte da base vamos sofrer muito mais. O projeto que está sendo aplicado pretende destruir todos os nossos direitos, a própria empresa e nossos empregos.

Todos se lembram do BNH, do Banespa, do Banestado, do Banerj, da Nossa Caixa e tantos outros bancos que desapareceram. Não dá para ser ingênuo e achar que isso não vai ocorrer com a Caixa e o BB.

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