Dos R$ 84 bilhões aplicados pelos planos administrados pela Funcef, base março de 2021, a Vale S.A., por meio do Fundo de Investimentos Carteira Ativa II (FIA CA II), detém R$ 11 bilhões, 13,1% do total. Se considerados os R$ 26,9 bilhões alocados no segmento de renda variável, a proporção é de 40,9%
Concentração elevada em uma empresa, de fato, mas em função, principalmente, da valorização desse ativo, destacadamente a de 65,4% de 2020, percentual muito acima dos indicadores do mercado de ações. O resultado do fundo, nesse ano, passou dos R$ 4 bilhões.
Investidores ganharam com a riqueza antes sob o domínio do país
Os fundos de previdência, Funcef aí incluída, viabilizaram a privatização da Companhia Vale do Rio Doce – CVRD, hoje Vale S.A., em 1997. A Companhia foi criada em junho de 1942 pelo Governo Vargas. Encampou, então, a Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia e a Companhia Itabira de Mineração. Jazidas de minério de ferro, pertencentes a britânicos, foram então nacionalizadas.
Criada a Vale estatal, a parte do subsolo brasileiro por ela explorada passou aos brasileiros. Com a Vale privada, voltou a ser de acionistas. Da mesma forma, os ganhos.
A Funcef investiu R$ 250 milhões em 1997, quando da privatização. Sua participação, entre outros investidores, se dá pelo Fundo de Investimentos Carteira Ativa II. A partir de dados da Fundação, constata-se que, de dezembro de 2002 a março de 2021, a evolução do saldo desse fundo foi de 1.346%, crescimento real de 418,6% se descontada inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A participação da Funcef foi contabilizada, em março de 2021, por R$ 11 bilhões ante R$ 761 milhões de dezembro de 2002 (gráfico 1).
O saldo do FIA CA II, como típico de investimento em renda variável, varia. Em dezembro de 2011, havia chegado a R$ 9 bilhões. Naquele mês de 2015, com o país em recessão e exportações decadentes – aí incluídas as commodities da Vale – o fundo foi contabilizado em R$ 4,95 bilhões.
O valor desse fundo foi determinado, de 2008 a 2017, por laudo de avaliação econômica, que considerava, entre outras variáveis, fluxo de caixa futuro, retorno aos acionistas em razão do capital aplicado, e não apenas cotação das ações em mercado. Em 2018, as valor das ações em mercado ganharam peso e, em 2019 e 2020, segundo registro da Funcef, a definição de tal valor utilizou a média ponderada das cotações das ações da Vale, no caso último trimestre do ano.
Há, ainda, outras alterações significativas: no balanço de março de 2021, informa a Fundação que a gestão do FIA Carteira Ativa II foi transferida da Caixa para a própria Funcef. E acrescenta: “considerando o término do acordo de acionistas, com a finalização próxima das restrições de liquidez, a fundação decidiu pela precificação ao valor de mercado de VALE”. O acordo de acionista definia prazos e critérios para a alienação da participação. Infere-se, da manifestação de agora, que é intenção da Funcef alienar, ao menos em parte, a participação dos planos na Vale.
Distribuição por plano
O dado mais recente relativamente à aplicação de cada plano no FIA CA II é de dezembro de 2020.
Reg/Replan, na forma do benefício saldado, detém quase 90% do saldo do fundo. Isso foi determinante para a rentabilidade de 16,6% desse plano em 2020 e de 32,5% de sua carteira de renda variável. O Não Saldado, embora em menor proporção, 8,35%, alcançou 14,11% de rentabilidade – 21,9% na renda variável – o que permitiu a amortização de valor em equacionamento. Novo Plano e Reb, com participações residuais no FIA CA II, registraram resultados bem mais modestos: respectivamente, rentabilidade de 7,45%, com 3,37% na renda variável, e de 7,98%, com de 7,86% na renda variável.
Eventual venda de ações da Vale terá de ser compensada por investimento com perspectiva de ganho semelhante. A ver, nos próximos balanços, os caminhos definidos pela administração da Funcef.