Em entrevista à Rádio Jovem Pan Itapetininga, Jair Bolsonaro comemorou as projeções de crescimento de 5% do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) de 2021. Segundo ele, tal percentual, somado à depressão de 4% de 2020, totalizaria variação positiva de 9%.
Pois é.
Queda de 4% – crescimento negativo, diriam alguns – seguida de crescimento de 5% representa acumulado de 0,7%, dado que o índice deste ano se aplica à base anteriormente encolhida. Quando muito, recupera-se o que se perdeu em ano anterior.
Não se sabe se a declaração de Bolsonaro foi fruto de equívoco ou o presidente vislumbrou excelente mote para redes sociais acríticas, dadas ao psitacismo. É a fala do papagaio.
Projeções
Projeções são projeções, sem certificado de garantia. Aliás, a área econômica do governo federal é contumaz em projeções frustradas: da retomada econômica sempre anunciada e não alcançada à distribuição de renda transformada em mais concentração.
Atividade econômica estagnada gera a chaga do desemprego. Dados do IBGE: no Brasil, a taxa de desocupados supera os 14%, mais de 14,3 milhões de cidadãos. Desalentados, rótulo para aqueles que desistiram de procurar posto de trabalho, outros 6 milhões. Se a esses se somarem aqueles que trabalham em jornada inferior à possível e desejada, aos que encontram ocupação eventualmente, o número alcança os 33 milhões. A População considerada economicamente ativa é de pouco mais de 100 milhões.
Não se responsabilize a pandemia pela estagnação. O país registra recessão ou crescimento ínfimo desde 2015 (Gráfico), ano em que se restabeleceu a ótica econômica neoliberal.
A variação positiva do PIB é consequência de investimento, coisa em queda no Brasil há algum tempo, queda agora agravada pela fuga de indústrias que desativam suas plantas no país. Também é consequência dos dispêndios do próprio governo, contra os quais alimenta-se a sanha de neoliberais. Gastos, a contragosto, ocorreram em alguma medida em 2020 pela imposição do auxílio emergencial, aprovado em valor que representou o triplo do pretendido pela área econômica do governo, e evitaram baixa mais negativa do PIB.
E, ainda entre as variáveis do Produto, o consumo das famílias: renda em queda e renda nenhuma representam consumo nenhum ou contadinho a cada mês. Não é acaso que 19 milhões de pessoas no Brasil não sabem, a cada dia, se irão se alimentar e ou que 100 milhões se alimentam inadequadamente. Se com alimentação é assim, o que se dirá do restante?
Propagandear o otimismo, por vezes ancorado pela mídia comercial amiga, não resolve problemas.
O resultado do modelo brasileiro é revelado ininterruptamente nas praças e ruas do país: basta observar os milhões ao relento, desesperançados e abandonados.