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GDP 2021 na CAIXA e o leito de Procusto

A GDP (Gestão do Desempenho de Pessoas) da CAIXA parece ter se inspirado na antiguidade grega. Mas a inspiração não foi Atena, a deusa da sabedoria. É no mito de Procusto que temos a melhor representação da filosofia aplicada na CAIXA.

René Ménard, em seu livro Mitologia Greco-Romana, escreve: ““O bandido Procusto possuía singular mania; queria que todos tivessem a sua altura, e, para tanto, mandava que se deitassem no seu leito os viajantes detidos. Se ultrapassassem a medida do leito, cortavam-se-lhes as extremidades das pernas; se, pelo contrário, fossem demasiadamente pequenos, puxavam-nos mediante cordas, até que atingissem o comprimento exigido”.

Pelo regulamento de 2021, foi instituída a “curva forçada”. Pela regra, não importa qual o desempenho registrado segundo as 20 páginas de regras do manual, apenas e no máximo 30% dos trabalhadores de uma unidade podem ser considerados de “desempenho superior”, dos quais apenas 5% poderão ser considerados “excelentes”. O sistema de tortura de Procusto não para por aí. Forçosamente no mínimo 5% dos trabalhadores da unidade têm que ser enquadrados no pior desempenho, chamado de “desempenho não atende”.

A regra por si só é um esquema de tortura digno da inquisição. E por mais complexo e detalhado que seja o “modelo”, o manual não deixa claro a cargo de quem ficará esse “ajuste” forçado na avaliação individual, nem o que acontecerá em caso de empates na nota.

Como todo modelo de tortura, além das vítimas, vai instituir um carrasco. O gestor responsável pelo enquadramento na “curva forçada” ainda será obrigado a administrar a torrente de sentimentos negativos de ter que rebaixar colegas que até o dia anterior garantiram a realização do trabalho coletivo na unidade.

Outro mito a ser combatido: a meritocracia

Sob o argumento da meritocracia, metas individuais e assédio moral viraram lugar comum no mundo corporativo do século XXI. Na realidade, a meritocracia se expressa na constante exposição de um “mau desempenho” da maioria dos trabalhadores (só uma minoria presta, pois estaria acima dos 100% nas metas).

Aliada aos métodos eletrônicos de controle, a política de vigilância e mensuração da produção individual gera um ambiente árido e de competição de todos contra todos. E aqueles que acreditavam que isso poderia dar um caráter “científico” aos processos de seleção interna (PSI’s) já veem que não é esse o objetivo. O objetivo é subjugar e controlar, impedindo que a coletividade se organize em torno de soluções que muitas vezes podem contrariar o controle vertical da empresa – cujo objetivo central é o lucro – não o bem estar dos clientes, não o desenvolvimento da qualidade do trabalho entregue à sociedade. Lembrando que com as privatizações, o lucro da CAIXA passa a ser compartilhado com os poucos acionistas privados.

O impacto da generalização do modelo, nos últimos 20 anos, é que o consumo de drogas psiquiátricas não para de aumentar e as pesquisas apontam que as doenças emocionais causadas pelo trabalho já superaram as demais doenças laborais, como era o caso das lesões por esforço repetitivo na categoria bancária.

É preciso extinguir imediatamente a curva forçada – expressão máxima da arbitrariedade do modelo de gestão – mas além disso combater as metas individuais e pensar um modo de gestão democrático, inteligente e comprometido com a população pobre do Brasil, valorizando de verdade os trabalhadores da CAIXA. Seja com Atena, com Oxum, com Salomão, ou com Jesus, a sabedoria precisa guiar a humanidade. E Procusto e a tortura precisam ocupar o lugar que lhe são devidos: a lata de lixo da história.

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