Movimento

A campanha salarial dos bancários e o segredo de Tostines

Os mais velhos, certamente lembrarão da propaganda dos biscoitos Tostines nos anos 1980, quando a tradicional marca brasileira, cujos direitos pertencem atualmente à transnacional Nestlé, lançou como propaganda o bordão “qual será o segredo de Tostines: vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”.

Mas o que tem a ver a, talvez, mais popular fábrica de bolachas (Maria, Maizena, Água e Sal e Cream Cracker, entre outras) do mercado nacional com a campanha salarial dos bancários? Quase nada, a não ser o fato de podemos parafrasear a famosa propaganda da empresa para, ironicamente, aplicá-la à situação a que, lamentavelmente, chegou o movimento dos bancários após alguns anos de absoluta letargia por parte das nossas entidades sindicais capitaneadas pela Contraf.

Qual o segredo da negociação dos bancários: não avançam porque os trabalhadores não se mobilizam, ou os trabalhadores não se mobilizam porque as negociações não avançam?

Bem, na verdade não há segredo nenhum. Somos obrigados a repetir de forma exaustiva o chavão: o papel primordial das entidades sindicais é conscientizar, organizar e mobilizar os trabalhadores, e é inegável que nossos “representantes” nas mesas de negociação, têm abdicado, há 7 anos, com impressionante desfaçatez, destas suas mais fundamentais atribuições. O resultado é visível a olho nu: retrocessos, perda de direitos da categoria, que levam a perda de credibilidade dessas entidades, retroalimentando a desmobilização da categoria.

A cada ano vemos se repetir o enfadonho ritual: fóruns de deliberação cada vez mais burocráticos e conduzidos de forma totalmente antidemocrática; resoluções aprovadas sem convicção e sem conexão com os reais anseios das bases, as quais não serão defendidas nas mesas de negociação – vide o tratamento dado às duas mais prementes demandas dos bancários da Caixa, os temas Saúde Caixa e Funcef; calendário de negociação premido entre o final da pretensa preparação e o último dia de vigência dos instrumentos coletivos negociados na campanha anterior, 31/08; pressão para aprovação das propostas apresentadas pela Fenabam e as direções dos bancos até o fim da vigência da CCT e dos acordos específicos, sob o pretexto do fim da ultratividade (prorrogação das cláusulas até a resolução do processo negocial) na esteira da desregulamentação da CLT promovida em 2017, esquecendo-se que antes do advento da Súmula 227 do TST, em 2012, também não havia ultratividade e nem por isso os bancários deixavam de se mobilizar para forçar os bancos a ampliar seus direitos, assinando convenções e acordo em datas muito posteriores ao 31/08; e, finalmente, assembleias realizadas de forma virtual, de caráter plebiscitário, impedindo o debate de ideias e propostas, acabando por “autorizar” essas mesmas entidades a assinar péssimos acordos, ano a ano.

Atividades para dar lastro às reuniões com os patrões para avançar nas conquistas, somente esparsos dias de luta, propositalmente mal preparados e mal convocados, apenas para não se dizer que não fazem nada, à exceção de algumas poucas bases nas quais as direções sindicais se opõem à tutela da Contraf ou por iniciativa dos próprios bancários em locais onde lideranças de base conseguem organizar com o próprio esforço, apesar da ausência dos sindicatos.

Mudar esse estado de coisas, certamente não será fácil, mas é possível. A exemplo disso podemos citar o encontro nacional das oposições, realizado em 27 e 28 de julho último, tendo reunido dezenas de bancários com a participação de outros mais de forma virtual, onde importantes debates foram realizados de forma ampla e aprofundadas, tanto relativos à categoria como um todo, como sobre os temas específicos banco a banco. Sendo aprovado documento que destaca a importância da união da categoria, não só para recuperar direitos subtraídos pelos patrões, com o beneplácito da Contraf e das entidades a ela vinculadas, bem como pela conquista de novos itens reivindicados.

Outra medida essencial é, como em anos anteriores, os bancários, cada vez mais numerosos, que não concordam com essa forma de encaminhamento, debaterem com os colegas não somente de suas unidades como de outras e inclusive de outros bancos, sobre a necessidade de recusarmos essa fórmula viciada que tanto tem feito retroceder nossas conquistas levando ao enfraquecimento do movimento.

Para isso é muito importante pressionar os sindicatos no sentido retomarem as assembleias presenciais, com a garantida da realização do necessário debate, e convocar todos a participar delas, votando contra a aprovação da CCT e ACT específicos de afogadilho, ao mesmo tempo, aprovando um calendário de mobilização com manifestações, paralizações e data para início de uma greve capaz de resgatar a tradição de luta dos bancários.

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