É comum ouvir que fulano bateu na sua esposa ou namorada porque ele é apaixonado e ciumento. Esse absurdo é encoberto pela hipocrisia social, que formula ideologias para justificar essa opressão. Todo mundo conhece a frase: “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”.
Isso é machismo estabelecido nas regras sociais, daí, deriva um modo de vida onde a mulher se torna um objeto, uma coisa (coisificação), uma mercadoria. Tem um preço, tem proprietário, tem características que interessam a um consumidor.
Então, o romance é envolto nessas características, onde a mulher é submissa aos desejos de seu marido, namorado, pai, irmão etc.
E no futebol, que é uma paixão nacional? Acha que o comportamento é diferente? Não poderia ser. Gritos machistas, racistas e homofóbicos nas torcidas são expressões da sociedade em que vivemos.
Muitos jogadores estão se rebelando contra o racismo, fazendo protestos e respondendo, com firmeza, às agressões das torcidas. Mas o sistema não ajuda e a punição aos times, cujas torcidas estão xingando, não acontece. “Afinal, o clube não é culpado por isso”.
Mas se, na questão do racismo, a efetiva luta está muito atrasada, no caso de machismo, isso ainda nem começou!
O maior exemplo é a questão do futebol feminino, que não deixa nada a dever ao masculino, mas não tem audiência, o patrocínio é ínfimo, as premiações são ridículas, comparadas às do masculino.
Pior: quando jogadores, técnicos ou dirigentes cometem atos machistas, a tendência dos torcedores, embalados muitas vezes pela imprensa, é de deixar para lá. Afinal, o que importa é se o time está jogando bem.
Só se toma “alguma” providência, quando o escândalo é muito grande, como matar a namorada e dar para os cachorros comerem. Mas, mesmo nesses casos, depois de alguns anos, o jogador ainda encontra um time para jogar.
Atualmente, um dos maiores casos de machismo noticiado é o do jogador Robinho, que ganhou repercussão internacional por ele ter sido um jogador famoso, inclusive, na Europa.
O caso de estupro ocorreu na Itália e o fato de ele ser estrangeiro e negro, contraditoriamente, podem ter ajudado na condenação do jogador.
Mas a questão é: até quando ele ficará sem jogar?
Afinal, um jogador tão “bom de bola” pode ajudar muito um time na disputa de um campeonato muito difícil. Isso é o que acontece com jogadores como o ex-goleiro do São Paulo, Jean, ou mesmo com técnicos, como o atual campeão do Brasil, o Cuca.
O primeiro foi acusado, pela esposa, por agressões e o segundo, por estupro de menor. Ambos não foram punidos pela justiça e gozam, hoje, de sua carreira no futebol.
Dizem que o futebol é uma “paixão nacional” e, como toda paixão, nesta sociedade, traz a carga de machismo. Neste mês de março, que internacionalmente é o mês de luta das mulheres, é preciso mais do que homenagens a elas, é preciso combater, racionalmente, essa paixão, saber respeitar os direitos das mulheres, tratá-las com igualdade e dar a elas liberdade para fazerem o que quiserem com seus corpos.
Talvez, assim, essa “paixão nacional” cresça ainda mais, com estádios lotados para assistir partidas de jogos femininos. E o mais importante, sem ninguém gritando: vaca, vagabunda, piranha!