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Aos nossos olhos, percepções no 2 de abril de 2022: Apcef São Paulo aos 115 anos

Se a cada associado fosse dado revelar sua percepção quanto à Apcef São Paulo, certamente as expressões se contariam aos milhares. Claro que percepções se assemelhariam e, arranjadas pela semelhança, permitiriam concluir tratar-se de uma associação de pessoas ou pelo lazer, ou por direitos, ou pela cultura, ou pela arte, ou pela representação ou, o mais razoável, por tudo e algo mais.

Há que se imaginar – e não custa nada imaginar, lembra Vinícius de Moraes – que ao revelar sua percepção muitos associariam essa associação de pessoas à sua própria vivência na Caixa, vivência para muitos de um tempo longo, embora rapidamente transcorrido; vivência, para outros, não interrompida nem mesmo pelo fim do vínculo com a Caixa; vivência, para muitos de agora, não tão longa, nem por isso menos marcante.

Há os que se lembrariam do que representou a Apcef São Paulo ao abrigar demitidos pela Caixa – demitidos por um governo que rotulava a “velha Caixa, uma organização inchada, que lutava para sobreviver”; por ironia, esse governo sobreviveu pouco mais de dois anos. Há os que se lembrariam do que representou a Apcef São Paulo na reintegração daqueles trabalhadores e na reintegração de outros demitidos, no caso grevistas em luta da categoria bancária ou em repúdio ao rótulo de “massa velha”. Há os que se lembrariam da Apcef São Paulo por terem sido amparados na defesa de seu direito individual, pela proteção contra assediadores, na promoção de eventos, concursos, festivais, torneios esportivos, pela oferta de espaços coletivos para seu lazer e o de sua família. Enfim, lembranças que, somadas, permitiriam concluir tratar-se, de fato, de uma associação de pessoas por tudo e algo mais.

A Apcef São Paulo já foi Abef, a Associação Beneficente de Economiários Federais. Movimento de associados derrubou o “beneficente” e o “economiários”. Nas lutas dos anos 1980, a Abef, cujo patrimônio carregava etiquetas metálicas numeradoras do patrimônio da Caixa, conquistou a independência e se fez Apcef. A independência não veio sem o custo do orçamento quase nenhum, da perseguição patronal e, curiosamente, de acusações por algumas entidades de “paralelismo sindical”. A coisa toda foi superada graças aos associados: decidiram que a Apcef os representava e, assim, por todos deveria atuar. Não tinha que ser simpática ao patrão, tampouco agradável. Não tinha por objetivo paralelizar o que quer que fosse. Sempre cultivaria a insubmissão.

No entanto, nos últimos anos a Apcef São Paulo vem mudando seu rumo. Perde muitos e muitos associados. Aqui, não se trata de imaginar. É um fato que, isoladamente mencionado, representa todos os demais que a colocam em risco.

Aos nossos olhos, a entidade, mesmo dispondo de inteligência para tanto, não tem conseguido formular o contraponto à cultura do indivíduo doutrinado pela meritocracia, coisa terrível e tão latente nestes tempos. Tem desprezado a necessária atitude insubmissa. Tornou-se conciliadora em prazos e ofícios, crente nas promessas patronais. Baixa os olhos em público à corrente política, preza a obediência pela obediência, ao tempo em que deveria valorizar a rebeldia, a força militante.

Como dissemos, razões que nossos olhos alcançam e tornamos públicas, como tornamos público o reconhecimento da legitimidade e do necessário respeito à direção da Apcef São Paulo. Ela é integrada por muitos de um tempo longo e por muitos de agora. Aqui, a crítica aberta é o maior sinal de respeito.

Muito do que ainda se faz pode ser perdido se a direção não enfrentar o desafio de dialogar pelo futuro, sempre reafirmando a história antipática ao patrão, reafirmando a postura insubmissa.

A Apcef São Paulo foi construída para que ninguém fosse deixado para trás. Que recupere esse caminho.

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