Economia

Brasil: de volta ao mapa da fome.

Pesquisa tratou de Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia Covid-19 no Brasil, mas, em relação aos resultados, disse a Rede Penssan, sua realizadora, “temos a expectativa de que eles lancem luz e ampliem a sensibilidade da sociedade brasileira e seus governantes para com o agravamento do flagelo da fome e demais manifestações de Insegurança Alimentar que afetam parcela significativa e crescente da população brasileira, cujos sinais já eram visíveis desde antes da pandemia”.

A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania Alimentar (Penssan) fez sua pesquisa em dezembro de 2020, tendo por universo 1.662 domicílios urbanos e 518 domicílios rurais no país. Segundo a Rede, menos da metade dos domicílios brasileiros (44,8%) tinha seus moradores em situação de segurança alimentar. Nos demais, 55,2% conviviam sob insegurança alimentar (alimentos insuficientes para satisfazer as necessidades) e, destes, 9% em insegurança grave, ou mais claramente, famélicos. Em números absolutos: dos 221,7 milhões de habitantes, 19 milhões enfrentavam a fome cotidianamente em dezembro de 2020.

Ao comparar seus resultados aos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do IBGE, a Rede Penssan revelou que o quadro de segurança alimentar e redução acentuada do percentual da insegurança grave, que evoluiu positivamente entre 2004 e 2013 nos governos Lula e Dilma, voltou a ser trágico em 2018 e, agora, piorou.

Em maior ou menor grau, a depender da região do país, a insegurança alimentar está associada a baixos rendimentos mensais e ao desemprego, com ocorrência maior entre pessoas do sexo feminino e que se declaram de raça ou cor de pele preta ou parda, constata a Penssan.

O Brasil, assim, foi em janeiro deste ano notícia no mundo por voltar ao mapa da fome da Organização das Nações Unidas (ONU), do qual tinha sido excluído em 2014.

A retomada da ordem neoliberal tem a ver com isso. Após a derrubada do governo Dilma Rousseff, em 2016, diziam os especialistas de sempre que a ascensão do governo Temer, agente dessa ordem, faria o Brasil deslanchar. Não deslanchou. Em seguida, a redenção viria com Jair Bolsonaro e seu, na expressão dele próprio, “posto Ipiranga”, outro neoliberal. Redenção nenhuma, dizem os fatos.

O princípio neoliberal é de menos Estado, exceto se for para socorrer os grandes, e mais mercado. Os resultados de sua aplicação estão aí. Durante a pandemia, houve a liberação de R$ 1,2 trilhão aos bancos, dinheiro que deveria chegar, mas não chegou a quem buscou financiamento. Por outro lado, houve corte de investimentos públicos, resultante da lei do teto de gastos aprovada no governo Temer e a consequente contração econômica; desregulamentação da contratação trabalhista, que institucionalizou a informalidade, o emprego temporário e o “empreendedor” de entrega vinculado a aplicativos; desemprego crescente, que alcança mais de 12 milhões de cidadãos. Associado a esses fatores, o descontrole inflacionário, em grande parte gerado pela elevação acentuada dos dolarizados preços de combustíveis, política instituída por Temer ao assumir e mantida por Bolsonaro, com consequência deletéria na composição de preços dos mais variados produtos e serviços.

O ministro da economia, Paulo Guedes, entre tantas pérolas de sua autoria, sugeriu recentemente que as sobras dos restaurantes alimentem pobres.

O país terá, se nada impedir, eleições neste ano. A ver se em 2023 haverá novo rumo ou se o abismo continuará sendo o destino da nação.

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