Em 12 de janeiro de 2023 a Caixa Econômica Federal chega aos 162 anos. Completa mais um ano de serviços ao país, apesar da direção a ela imposta pelo bolsonarismo. Pedro Guimarães, por anos figura frequente em vídeos, lanchas de passeio e calçadas nova-iorquinas ao lado de seu padrinho Jair Bolsonaro, dirigiu o banco de janeiro de 2019 a junho de 2022. Não conseguiu se segurar no cargo ao ser denunciado por empregadas (plural, mesmo) da Caixa pela prática de assédio sexual. Além da agressão às pessoas, seu legado é de um banco com lucros artificiais, inflados pela venda de participações em subsidiárias a sócios privados, abrindo a eles as portas de ganhos fáceis. Guimarães também se notabilizou por política que acarretou perda constante de mercado para concorrentes em operações que a estes interessavam. Não causou mais danos pela falta de tempo.
Nesse período restou à Caixa presença mais significativa apenas naquilo que não interessou a grandes bancos: o atendimento social durante a pandemia. O atendimento não foi escolha da gestão Guimarães; foi imposição da trágica crise sanitária, aquela negada pelo bolsonarismo, não obstante as centenas de milhares de mortos. Mas não se imagine que a estrutura foi fortalecida ou que metas comerciais, voltadas a produtos lucrativos a sócios privados, tenham sido relativizadas em nome do atendimento aos milhões de abandonados por instituições privadas e abandonados pela política de governo, milhões que só alcançaram benefícios emergenciais por iniciativa parlamentar, embora o bolsonarismo tenha da autoria se apropriado. O atendimento foi viabilizado pelo desempenho dos trabalhadores do banco, empregados e contratados, escolados em superar precaríssimas condições.
Há que se reconhecer que não foram invenções bolsonarista ações para fragilizar a empresa e torná-la instituição que não incomode grandes bancos. Ainda no governo neoliberal de Collor de Mello, a Caixa foi entregue à gestão de executivo do Banco Econômico, que, entre suas medidas “renovadoras”, implantou processo de demissão em massa de trabalhadores e direcionou o atendimento social para as garagens das agências. À época, a Revista Exame, ao entrevistar tal executivo, concluía sarcasticamente que a velha Caixa lutava para sobreviver. Ironias da história, a Caixa sobreviveu a Collor, os demitidos foram reintegrados pela luta dos trabalhadores, o Econômico e seu executivo desapareceram e a Exame é, hoje, controlada por um banco que a arrematou em processo de recuperação judicial da outrora importante Editora Abril. Os oito anos do também neoliberal Fernando Henrique Cardoso seguiram a cantilena: nada de contratações e reajustes salariais, nada de infraestrutura, nada de ação agressiva da Caixa para incomodar concorrentes, nada de olhos para a população.
Essas são algumas das lembranças contemporâneas, de tentativas de destruir essa mais que sesquicentenária instituição. Mas, ainda assim, a Caixa não foi destruída. E por quê? A história revela que ela não foi destruída porque milhões de cidadãos que se vinculam à Caixa a defendem. A Caixa é indispensável ao Brasil.
O presidente Luís Inácio Lula da Silva anunciou que a Caixa, a partir de 2023, será orientada a políticas de Estado e fortalecida enquanto instituição pública. Como símbolo do tempo de diálogo e prestígio, terá em sua direção uma profissional que trabalha no banco há décadas, ela própria testemunha e personagem de muitas lutas.
Assim, este 12 de janeiro marca muito mais que um ano de existência e de resistência dessa instituição. Ele deve ser consagrado como início do que virá. Tempo de otimismo? Não. É tempo de realismo, em que se reconhece a escolha do bom caminho, mas sem desprezar a certeza de que o país deve se fazer presente para que este caminho seja trilhado.