Taxas de desemprego elevadas têm sido recorrentes no Brasil e, por serem recorrentes, a cada anúncio de crescimento perdem o impacto.
Naturalmente, a perda no impacto é nas manchetes, não junto àqueles que, desempregados, elevam o grupo de informais, os por conta própria, subutilizados ou desalentados, a depender do rótulo atribuído pelo IBGE.
Em aparente contradição, entre uma e outra taxa divulgada anuncia-se recorde na geração de empregos com carteira assinada. Tais recordes devem ser relativizados: segundo o Dieese, dos 142 mil postos criados com carteira assinada em 2020, 73 mil classificaram-se em intermitentes, modalidade em que o trabalhador fica à disposição de seu empregador e recebe pelas horas trabalhadas, se realizadas tais horas. Em resumo: alívio no indicador, não no emprego ou renda.
Remédio para o desemprego, anunciam neoliberais, são as reformas trabalhistas. Se de fato assim fosse, seus efeitos já teriam sido observados. Os intermitentes nasceram das reformas, que aliás se sucedem desde o governo Temer e sua Ponte para o Futuro.
A média trimestral apurada em Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD-IBGE) revela, observada série histórica 2012-2019, que houve crescimento na população com 14 anos ou mais de idade, na força de trabalho e, acentuadamente, na proporção de desempregados: 75,9%, mais 5 milhões de cidadãos! (Tabela 1)
Ao se incluir o ano de 2020, com condição econômica agravada pela crise sanitária, os indicadores são mais assustadores. Em apenas doze meses, redução de 8,9% da população ocupada, elevação de 16,6% daqueles fora da força trabalho – entre eles, desalentados, que desistiram da buscar emprego – e de 19,7% na taxa de desempregados (desocupados, na definição do IBGE). Comparada a 2012, o número de desempregados mais que dobrou (tabela 2).
A experiência indica que oferta de vagas não é consequência do fim de garantias aos trabalhadores ou aprovação de incentivos às empresas. O que eleva a oferta de vagas, inclusive as formais, é a atividade econômica. Considerada a mesma série histórica da PNAD, as menores taxa de desemprego foram registradas de 2012, 2013 a 2014 (Gráfico), anos em que a variação do Produto Interno Bruto no país registrou 1,9%, 3% e 0,5. De 2015 a 2019, PIB com variação acumulada de menos 3,2%. A retração em 2020 deve ficar em 3,5%.