O site “Diário do Poder” deste domingo traz artigo do jornalista Tiago Vasconcelos em que, com base em documento do Ministério da Economia intitulado “Relatório de Benefícios de Empresas Estatais Federais”, atribui aos valores dos planos de saúde dos bancos estatais federais, Caixa, Banco do Brasil, Basa e BNB, a culpa pelo caos generalizado na condução da política de enfrentamento à pandemia da covid 19 no país, citando inclusive a crise do oxigênio em Manaus como exemplo.
O jornalista desvendou o mistério. Alegar o negacionismo e a incúria do desgoverno de plantão como responsáveis pelas mais de 230 mil mortes e quase 10 milhões de contaminados até agora é apenas uma cortina de fumaça, a verdadeira razão da tragédia é o que ele chama de “lista de penduricalhos” das empresas e conclui afirmando que os trabalhadores desses bancos deveriam se envergonhar. Vergonha deveria ter ele de publicar artigo a partir de análise tão rasteira.
A dúvida que fica é se a matéria é apenas fruto da incapacidade do autor em acompanhar de forma mais atenta as atitudes surreais de Bolsonaro e sua equipe desde o anúncio do primeiro caso em Wuhan, o que para uma pessoa comum já é algo estranho, mas para um profissional do jornalismo é impensável, ou se é encomendada pelo próprio governo, com dois objetivos claros, desviar o foco sobre si da responsabilidade; e colocar mais um pouco de lenha na fogueira que busca retirar mais um direito dos trabalhadores, tentando instigar a opinião pública contra a assistência à saúde dos empregados das estatais federais.
Elencar aqui as atitudes insanas da equipe do governo federal no trato com a crise sanitária, com destaque para o chefe e para Pazuello, além de desnecessário, não caberia nesse espaço, mas podemos, da mesma forma que fez o jornalista, usar um elemento indireto para buscar uma explicação, esse sim, com maior verossimilhança. Se os valores gastos com os planos de saúde dos bancos federais seriam suficientes para evitar o genocídio de Bolsonaro, imagine-se o que não daria para fazer com os R$ 1,2 trilhão entregues de mão beijada pelo Banco Central à banca privada lá no início da pandemia.