Pedro e Manuela Guimarães
O portal Metrópoles publicou no dia 17/10, na coluna do jornalista Rodrigo Rangel, matéria sobre a conclusão da apuração interna realizada pela Corregedoria da Caixa a propósito dos crimes de assédio sexual, fartamente praticados por Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa, cujas denúncias foram apresentadas por empregadas do banco, vítimas de suas atitudes abusivas, ao Ministério Público Federal no final de 2021.
Essas denúncias, divulgadas na mesma coluna em 28/06/2022, foram o motivo da demissão do assediador, já no dia seguinte. Após sua queda, vídeos de situações e acusações de assédio moral surgiram em diversos órgãos de imprensa, em meio às repercussões do desligamento de Guimarães e os graves motivos que o levaram a essa situação.
O texto do jornalista não traz detalhes sobre o resultado da apuração, mas, de acordo com a reportagem, o próprio PG e pessoas de sua relação andaram ameaçando empregados que fizeram parte da comissão de investigação, levantando a suspeita de que os resultados do processo não seriam favoráveis a ele.
Dias após terem sido publicadas as denúncias e sua retirada do comando da empresa, no esforço de se contrapor às acusações, Guimarães subscreveu texto no jornal “Folha de São Paulo”, utilizando recursos normalmente adotados por figuras públicas pegas em atitudes moralmente não recomendáveis, como no caso, tentativa, diga-se, pouco convincente. Ele inicia sua argumentação com a seguinte afirmação: “Eu não escreveria um artigo com meu próprio nome e não faria as afirmações que farei se não pudesse sustentá-las não apenas hoje, mas daqui a um, dez ou 20 anos. Portanto, não é um texto de defesa. Mas um posicionamento de vida.”
Mais adiante, se fazendo de vítima, alega estar “sofrendo um massacre insano e inquisitorial”, que quer “sofrer a mais profunda devassa a que uma pessoa pode ser submetida” e segue afirmando sua conduta ilibada e honestidade, procurando desqualificar os depoimentos das mulheres vítimas de sua perversão e os vídeos com cenas de humilhações a empregados que trabalhavam próximo a ele ou eram convocados a o acompanhar em suas viagens pelo país.
No dia 05/07, o portal UOL traz uma matéria analisando o artigo publicado pelo ex-comandante da Caixa. Nela a jornalista Isabel Del Monde, do “Universa”, que acompanha casos semelhantes, afirma que a linha de argumentação do artigo é clássica de homens acusados de assédio sexual.
Outra prática adotada por ele, também bastante usual, foi publicar fotos ao lado da esposa, e declarações dela testemunhando as virtudes de “chefe de família” do marido e sua dedicação ao lar. Aliás, no dia seguinte à divulgação do escândalo, quando compareceu à empresa para se desligar, fez-se acompanhar dela.
As más notícias para PG, no entanto, não param por aí. Em 21/10, nova matéria do colunista Rodrigo Rangel informa que a Caixa está sendo condenada a indenizar em R$ 20 mil um dos empregados participantes do jantar, parte do evento realizado no estado do Amazonas, em que foram obrigados a comer pimenta e humilhados pelo chefe, inclusive com xingamentos homofóbicos.
Em que pese ser irrisório para a Caixa o valor a ser pago como indenização, avalia-se que inúmeros outros empregados de todo o Brasil, submetidos a constrangimentos semelhantes, devam também entrar com ações. Além disso, o Ministério Público do Trabalho, ajuizou ação civil pública contra ela requerendo indenização de R$ 305 milhões pela prática de assédio sexual e moral aos trabalhadores, por seus gestores.
O jurídico da empresa, se fizer valer sua política de responsabilização dos empregados, deverá entrar com ações regressivas contra o ex-presidente a fim de se ressarcir desses prejuízos. Ou seja, a perspectiva é de que as coisas possam piorar significativamente para ele tanto no processo interno na Caixa, como na Justiça.
Os fatos denunciados pelas empregadas e divulgados na esteira da denúncia, são ainda mais graves porque tinham, e talvez ainda tenham, ramificações internas envolvendo outros altos executivos da empresa. Na noite do dia 19/07, o diretor da Caixa, Sérgio Ricardo Faustino Batista, responsável pela área de Controles Internos e Integridade, foi encontrado morto no pátio do prédio da Matriz da Caixa em Brasília. As investigações concluíram tratar-se de mais um suicídio, mas suspeita-se haver ligação com o caso Guimarães.
Na mesma segunda-feira (17/10) em que foi divulgada a conclusão do processo administrativo contra o ex-presidente, o vice-presidente de TI da Caixa, Cláudio Salituro, pediu demissão, se tornando o quarto vice-presidente a deixar o cargo desde o surgimento da publicação da denúncia contra PG. O que o levou a essa decisão foi o vazamento de vídeos em que constrange empregados terceirizados, com palavras ríspidas e xingamentos, inclusive com a utilização de palavrões.
Salituro é conhecido internamente, na empresa, como alguém bastante próximo ao ex-presidente. Comentário corrente entre os empregados da Caixa é de que Guimarães, não somente dava exemplo com a prática de suas perversidades, como explicitamente estimulava os gestores, em todos os níveis, a reproduzir seu comportamento.
Entre os vários ocupantes de altos cargos no (des) governo federal, das administrações direta e indireta, PG era conhecido como um dos mais próximos a Bolsonaro, tendo participado de diversas das lamentáveis “lives das quintas-feiras” e viajado com ele para diversos destinos, nacionais e internacionais. Ocasiões em que o então executivo-mor da Caixa demonstrava uma postura altamente bajuladora e submissa, frequentemente imitando as atitudes execráveis do (des) presidente da república.
Outro vídeo que também teve grande repercussão foi do encontro “Nação Caixa”, realizado em Atibaia/SP, em 21/12/2021, onde diversos altos gestores da empresa aparecem fazendo flexões de braço, sob o comando de PG, à semelhança de seu grande guru, o desprezível Bolsonaro, e diante uma plateia lotada de outros empregados.
Nos últimos dias, o (des) presidente da república em entrevista a um podcast no YouTube, confessando um ato de pedofilia, diante de meninas de 14 e 15 anos, pretensamente se prostituindo, afirmou ter “pintado um clima”, para desespero do comando profissional de sua campanha presidencial. A julgar pelo caráter de PG e pela forma que se relacionava com o chefe, deve ter aplaudido. Fato é que seus atos de constrangimento sexual com as trabalhadoras eram desencadeados porque “pintava um clima”. Acontece que agora, parece, estar “pintando um clima” de punição a ele, afinal, como diz o adágio “a corda arrebenta do lado mais fraco”. A ver.