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Pedro Guimarães usa mais assédio para rebater acusações de assédio

As trabalhadoras da CAIXA que tiveram o azar de ler a Folha de São Paulo nesta manhã de 5 de julho devem estar revoltadas. Diante da gravidade dos fatos já comprovados, não se pode aplicar o princípio jornalístico de se ouvir os dois lados (um deles sendo o criminoso). Mas o jornal abriu sua página 3 para o texto intitulado “Quero sofrer a mais profunda devassa”, do ex-presidente e “ex-amigo” de Bolsonaro, Pedro Guimarães.

Num artigo eivado de mentiras, o ser de vulgo “Pedro Maluco” usa a arma que mais se popularizou na sua gestão: a ameaça. Pois sim: o ex-presidente da CAIXA diz que exigirá de auditoria independente que inclua uma inquisição aos vice-presidentes e diretores com as seguintes perguntas “você alguma vez presenciou algum assédio sexual do ex-presidente? Se presenciou, quais atitudes tomou?”. Na prática ele quis dizer: “quando eu cometi abusos, por que você prevaricou? Por que foi conivente? Se eu for incriminado, você também será.”

É emblemático que ele dobre a aposta em assediar, para se defender das denúncias de assédio moral e sexual. No desespero de tentar defender sua família de seus próprios crimes, despreza a família das dezenas de mulheres violentadas, desqualificando como mentirosas suas denúncias.

Pedro usa a lógica da cumplicidade para tentar incriminar seus subordinados, que nos últimos três anos não combateram o assédio institucionalizado. Mas essa mesma lógica não se aplica a suas próprias palavras: no artigo, afirma que a CAIXA estava nas “manchetes policiais” e que ele teria estancado a corrupção reinante. Pois perguntamos: quais foram as denúncias de corrupção formalizadas pela atual gestão? Quem eram os corruptos? Quem eram os corruptores? Se havia, qual foi a atitude tomada, senhor Pedro Guimarães? Ou não existiram ou você é cúmplice. Desesperado, tenta arrastar toda a CAIXA para a vala de esgoto em que habita.

Os tiranos não têm amigos, têm cúmplices

A filósofa Marilena Chauí, no seu texto antológico “Amizade, recusa do servir”, comenta o clássico Discurso da Servidão Voluntária, de Etienne La Boétie, atualizando as ideias do francês. Para aqueles e aquelas que buscam inspiração para lutar num país autoritário e desigual como o Brasil, recomendamos as leituras. E para quem teve que aturar o entulho de texto que a Folha teve coragem de publicar, como antídoto, segue um trecho do clássico do filósofo francês:

“Certamente, o tirano nunca ama nem é amado. A amizade é um nome sagrado, uma coisa santa: só pode existir entre pessoas de bem, nasce da mútua estima e se mantém não tanto através de benefícios como através da boa vida e costumes. O que torna um amigo seguro do outro é o conhecimento de sua integridade. Como garantias, tem seu bom natural, sua fé, sua constância; não pode haver amizade onde se encontram a crueldade, a injustiça. Entre os maus quando se juntam, há uma conspiração, não uma sociedade. Eles não se entreapoiam mas se entretemem. Não são amigos, mas cúmplices.”

Uma vergonha que se dê espaço num jornal de circulação nacional, para que o ex-presidente da CAIXA ameace a direção da empresa, em meio a investigações do Ministério Público do Trabalho.

Quem trabalha na CAIXA já foi obrigado a ouvir as barbaridades de Pedro Guimarães por três anos e meio. Barbaridades das quais vamos poupar nosso leitor. Outras centenas de textos já foram escritos dando conta do clima que reina na gestão bolsonarista das estatais. Os assediados moralmente que adoeceram precisam ter sua integridade emocional poupada. E as mulheres (e suas famílias) que sofreram assédio sexual estão sendo novamente agredidas pelo artigo na Folha. Dar espaço para um neofascista defender suas práticas não é democrático – é ceder ao império do medo. É aceitar que somente a família de Pedro Guimarães tenha direito ao respeito.

Dedicamos nossa amizade e solidariedade a todas as mulheres que têm a coragem de se insurgir.

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