Economia

Selic: mudando para continuar igual com base nos que erram e ganham sempre

O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom), cuja composição é a própria diretoria do banco, elevou ontem (19) a taxa básica de juro anual (Selic) de 13,25% para14,25%, a maior desde 2016. A taxa real – nominal descontando-se a inflação-  alcança 8,79% ao ano, ficando atrás, no mundo, apenas da registrada na Turquia, 11,9%, na Argentina, 9,35% e na Rússia, 8,91%, informa o portal Carta Capital.

Nota do Banco Central diz que a medida é consequência de ambiente externo ”desafiador em função da conjuntura”. Acrescenta, em relação ao ambiente interno, que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo”  e que “a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação”. Na nota, o Banco promete mais altas para os próximos meses.

Muita gente ocupada

Pretende a autoridade monetária frear o crescimento econômico.

A menção a mercado de trabalho dinâmico é alerta pelo baixo desemprego, o que encarece o custo da mão de obra e permite mais gente consumindo, embora na realidade brasileira a baixa taxa de desemprego seja dado discutível. Está em algumas manchetes, mas, como mostra o próprio IBGE, baixa é a taxa de desocupação, não de desemprego: alguém vendendo pano de chão em um semáforo está ocupado, não empregado.

Previsão dos que erram e ganham sempre

Também em sua nota, diz o Banco Central que “as expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e situam-se em 5,7% e 4,5%, respectivamente”. Na definição do Banco, Focus é o relatório que “resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado coletadas” relativamente a “índices de preços, atividade econômica, câmbio, taxa Selic, entre outros indicadores”.

O Focus é obra de pouco mais de uma centena de representantes de instituições financeiras, gente do mercado, ninguém da economia real. Levantamento do portal UOL, destacado pela Fundação Perseu Abramo em janeiro deste ano, revela que “desde 2011, analistas do mercado acertaram apenas 5% das previsões sobre câmbio, inflação e crescimento do PIB”.  Mas, segundo o jornalista Luís Nassif, o tanto de erros é indiferente ao ganho do mercado: o necessário é acertar o movimento da autoridade monetária, a autoridade que faz o que o mercado quer que seja feito.

Meta

Em teoria, a Selic serve à contenção da inflação, tendo por referência a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em reunião de junho de 2024, o CMN definiu em 3%, com tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos, a meta de inflação de 2025. O Conselho, nessa reunião, era composto pelos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, Simone Tebet, do Planejamento, e pelo então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Desde que adotado o regime de metas de inflação, em 1999, índice de até 3% em um ano foi alcançado apenas em 2017, com IPCA acumulado de 2,95%. Em outros quatro anos, índice de até 4,5%. Nos demais, IPCA acima.

A meta é, a se observar o histórico, irrealista. No entanto, meta à parte, cada percentual na Selic custa R$ 54,5 bilhões na dívida pública da União, diz a Auditoria Cidadã da Dívida.

A diretoria do Banco Central é integrada por nove membros, dos quais dois indicados no governo Bolsonaro e sete, incluindo o presidente da instituição, no governo Lula. Nova gestão ou não, mudança nenhuma.

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