Quarto artigo destacando números da Caixa do primeiro semestre de 2021. Na terça-feira, 24, fundos de investimentos e fundos sociais, último artigo desta série.
A tecnologia transformou cada cliente em um bancário. Facilidade no acesso a serviços, sem dúvida, mas o ganho efetivo é apropriado pelos bancos. Nenhuma novidade. Bancários que seriam contratados e remunerados para executar tarefas de bancários são substituídos por clientes que, explorados, remuneram os bancos.
As cinco grandes instituições que caracterizam o oligopólio atuante no Brasil nem precisam se valer de ganhos com sua atividade-fim, a intermediação financeira, para cobrir os custos de pessoal. As tarifas, com folga, dão conta dos pagamentos. No Itaú, Bradesco e Santander proporção próxima a R$ 180 em tarifas para cada R$ 100 em custos. No Banco do Brasil gira em torno de R$ 120,00 para R$ 100,00. E a Caixa, embora mais modesta, não foge à regra: R$ 107 em tarifas para cada R$ 100 em despesa de pessoal.
Dos R$ 11,5 bilhões em tarifas e prestação de serviços no primeiro semestre de 2021 recebidos pela Caixa, R$ 3,9 bilhões, ou 34% do total, vêm de serviços de governo. Destaque, aqui, para FGTS e Loterias Federais, com R$ 2,2 bilhões. A privatização por meio de subsidiárias, plano do governo Federal e da direção da Caixa, encolherá a arrecadação própria com esses dois serviços. Sócios privados agradecerão.
Correspondentes, terceirizados e empregados
Há mais tarefas bancárias realizadas por não bancários. A Caixa registrava, em junho de 2021, 8.909 Correspondentes Caixa AQUI, 646 mais que os 8.263 do mesmo mês de 2020. O número de revendedores lotéricos se elevou em 350 entre os meses mencionados, totalizando agora 13.319. Por esses meios são realizadas 17,8% das transações da Caixa, excetuadas aí as apostas em loterias.
A Caixa debocha dos leitores de seu relatório ao concluir que “durante o 1º semestre de 2021 foram contratados 7.766 empregados e terceirizados”. Se correto o número, a equação não revela a variável da subtração.
Terceirizados são terceirizados, em regra vínculos muito mal remunerados destinados a produzir ganhos aos que fazem a intermediação. O total não é mencionado. Bancários concursados eram, em dezembro de 2020, 84.320; em junho de 2021, 84.262, menos 58. Assim, contratações insuficientes para cobrir demissões, aposentadorias e mortes. Aliás, foram cortados, desde dezembro de 2014, 16.416 postos de trabalho na Caixa.
A folha de pagamentos foi 1,33% superior, em termos nominais, na comparação entre junho de 2020 e de 2021. Em termos reais, encolheu: o percentual é bem inferior à inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (I(NPC) do período, acumulado em 9,22%.
Provisão para direitos pós-emprego
Por fim, destaque para a provisão relativa a direitos dos trabalhadores. Previdência complementar, auxílio alimentação, programa de assistência à saúde são formas de remuneração indireta estabelecidas quando da contratação, calculadas pela empresa inclusive para o período de aposentadoria. Em dezembro de 2020, provisão de R$ 28,5 bilhões e em junho de 2021, R$ 23,3 bilhões. A Caixa cortou, aqui, R$ 5,2 bilhões destinados a esses compromissos.
Redução de deficit e de direitos em plano de previdência contribuiu para tanto. Também vem contribuindo, desde 2018, duas regras estabelecidas atualmente na cláusula 32 do acordo coletivo de trabalho: uma, o limitador de gasto no Saúde Caixa, de 6,5% da folha de pagamentos e de benefícios de planos Funcef, excetuados valores do INSS; a outra, perda do direito ao plano de saúde, quando da aposentadoria, daqueles concursados admitidos a partir de 1º de setembro de 2018.
