Precisamos repercutir as vozes frequentemente silenciadas de empregados e empregadas da Caixa. O desafio desta coluna será trazer a realidade de trabalho nas falas, dores e alegrias dos colegas de profissão. Queremos veicular anseios dos técnicos bancários e dos gerentes, dos terceirizados e dos especialistas.
Há, portanto, muitos temas para abordar, mas queremos falar de muito mais, pois nossa gente não cabe toda só na moldura das relações sindicais e jurídicas. Pretendemos entrevistar, dialogar, trazer denúncias e mostrar caminhos de como a coletividade dos trabalhadores da Caixa constrói a resiliência e a superação de suas dificuldades.
Enfim, ter aqui a troca de ideias que, antes da pandemia, fazíamos tomando uma água ou um café na copa.
Para provocar a conversa, vamos começar falando dos fantasmas que têm assombrado a nossa vida funcional. Não é pouca coisa, mas esperamos resumir o que foi atravessar 2020 juntos. Vamos lá?
1) Sobrecarga de trabalho e pandemia
A redução do quadro de empregados registrada de 2014 para cá é ponto-chave. Em junho de 2020, eram 84.320 mil trabalhadores diretos contra 101.484 mil em 2014. Dezessete mil colegas a menos.
Mais do que números, pessoas. Clientes e empregados sabem da escassez de pessoas no atendimento e nas áreas-meio.
Nesse cenário é que, em 2020, chegou a pandemia de COVID-19, reduzindo ainda mais o quantitativo de pessoal no atendimento. A sobrecarga de trabalho nas agências é gigantesca, com um suporte tecnológico deficitário (provavelmente também por falta de pessoal).
Nenhum banco privado ajudou a Caixa a pagar o auxílio-emergencial e, agora, vamos pagar a segunda leva em 2021. Haverá um corte de um terço dos beneficiários desse auxílio e redução de 85% no orçamento em relação ao ano passado. Adivinha com quem a população vai reclamar?
Quanto à migração de trabalho para o home office, contra o bom senso, não há registro de ponto nem reembolso de custos com estrutura ou fornecimento de mobiliário adequado. Ou seja, os colegas foram jogados dentro do trabalho em casa, em alguns casos realizando mais de três horas extras por dia, sem remuneração, por causa de metas de tratamento de bases de dados ou de clientes, com sistemas que ficam indisponíveis com frequência. Sem falar nos problemas de conexão com a rede VPN.
Questões de saúde física (ergonômicas e sedentarismo) e mental já estão se agravando, além dos contágios e óbitos por COVID-19. E sequer a emissão de CATs a Caixa tem assegurado (se você passou por isso, mande uma mensagem para nós e procure seu sindicato, que pode emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho também).
2) Reestruturações, metas malucas e protocolos COVID-19 confusos
Parece que já faz mais tempo, mas iniciamos o ano de 2020 com uma gigantesca restruturação na rede de atendimento da Caixa, com centenas de gerentes descomissionados ou com função sumariamente reduzida, sem direito de incorporação do salário garantido, o que levou a uma enxurrada de novos processos trabalhistas ajuizados.
Foi assim que muitos gerentes foram transferidos de agência, para ganhar menos, em plena pandemia.
Depois de um curto período com suspensão da cobrança de desempenho, elas retornaram em junho, inclusive, com valores maiores do que os de dezembro de 2019, como foi o caso do crédito consignado. Pandemia? Proibido falar disso nas reuniões de cobrança de metas. Vender seguro, cartão, tudo com a “fila comendo” do lado de fora. Clientes passando mal, brigando com recepcionista enquanto o gerente geral de rede era impelido – pelas cobranças – a retirar pessoas do atendimento para vender produtos de fidelização. Isso tudo associado a uma constante mudança de orientações de como tratar a fila e os protocolos de segurança nas unidades, como a bizarra regra dos 15 minutos de convivência com o infectado a menos de 1,5 m de distância (qual a base científica para esses parâmetros?).
O temor é que esse cenário se generalize novamente com a segunda rodada do auxílio. É preciso que cada unidade tenha um delegado sindical ativo e atento a essas questões.
Itens como o rodízio quinzenal de trabalho presencial e a instalação de anteparos de acrílico nas mesas de atendimento estão sendo ignorados solenemente. Há muitos relatos de empregados de grupo de risco que foram assediados para retomar o trabalho presencial.
Por fim, fechamos 2020 com outra restruturação. Foram dezenas de transferências compulsórias de colegas das áreas-meio para agências distantes, em um claro movimento de perseguição a quem tem função incorporada durante o processo de inscrição para o PDVE, o que caracterizou, claramente, assédio para incentivo às adesões. E, agora, enquanto produzimos esse texto, chega a notícia de uma nova restruturação, cuja extensão ainda não foi compreendida, pois a Caixa não comunica o movimento sindical, nem mesmo os próprios envolvidos nas restruturações.
3) Reconhecimento? PLR menor e privatização de cartões e seguridade
Depois desse duro 2020, era o mínimo um reconhecimento por parte da administração da empresa, que nos apelidou de ‘heróis de crachá”. Que não só garantimos o pagamento dos benefícios sociais, mas cumprimos metas de vendas de cartões e seguro, dentre outras, mesmo com a pandemia.
Bem, o reconhecimento veio só em peças de marketing interno, pelo visto. Para começar o ano de 2021, as metas vieram novamente muito maiores, impactando diretamente a saúde dos empregados, em uma escalada de desespero. O pior é que o volume de vendas da rede de atendimento da Caixa tem sido exatamente o balizador para o cálculo do valor de mercado para abertura de capital (nome luxuoso para a privatização) da Caixa Cartões e da Caixa Seguridade. Ou seja, o esforço de metas serve ao desmantelo da própria empresa onde trabalhamos, gerando mais ansiedade sobre o futuro de nossos empregos.
A surpresa maior ainda viria com o corte da PLR Social, que foi reduzida, unilateralmente, de 4% do lucro líquido para 3%, gerando uma redução média de R$ 1.593,43 por empregado. Que é injusto fazer isso justamente depois dos esforços de 2020, isso é óbvio. Mas há ainda um toque de crueldade.
O argumento para o corte na PLR é que a Caixa não teria atingido suas metas de índices de cobertura e de eficiência operacional, que medem a relação entre receitas de tarifas e gastos operacionais, incluindo despesas administrativas, de pessoal e de terceirizados. Esses índices não constam do acordo coletivo.
O que a direção da empresa não diz é que, conforme as notas explicativas do próprio balanço financeiro da Caixa, assinado pela controladoria da empresa, as despesas de pessoal e administrativas foram impactadas: a) pelo PDVE e suas indenizações; b) pelos gastos com trabalhadores terceirizados e infraestrutura para pagar os benefícios sociais. Ou seja, para a Caixa, a PLR deve vir menor exatamente porque trabalhamos mais, com cada vez menos empregados e porque garantimos o pagamento dos auxílios emergenciais.
Diante de tudo isso, construímos esta página, para juntar a massa crítica necessária para renovar nossa organização independente, em cada local de trabalho, por fora e também por dentro dos sindicatos e APCEFs, que seguem sendo nossos principais instrumentos de luta.
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